Eu tenho um
sobrinho.
Em boa verdade,
tenho vários sobrinhos, mas para o caso consideremos apenas este.
Ao longo dos anos,
e quando a ocasião, as agendas e as vontades coincidem, tenho-o desafiado para
actividades que sei que de outro modo não faria. Nada de desportos radicais ou
quejandos, que não são o que faço, mas outras que sei que não faria não fora
ser desafiado pelo tio.
Há uns anos
valentes, andava ele na primária, e fomos dar uma volta, cá no bairro.
Ao atravessarmos
uma passadeira de peões, sem semáforos, perguntou-me ele porque agradecia eu a
passagem ao carro que parava e a cedia, quando nós, ali, tínhamos a prioridade.
Lá lhe expliquei
que não tinha a obrigação de o fazer, mas que sempre seria simpático fazê-lo.
Que satisfaria o condutor, incitando-o a fazer o mesmo noutra ocasião. E que
fazer um gesto simpático e um sorriso, pelo menos uma vez por dia, nos faz
ficar mais bem dispostos.
Ouviu-me com a
atenção de quem ouve a resposta a uma pergunta e não me recordo se terá
respondido.
Recordo, antes
sim, que uns seis meses depois, num trajecto semelhante, o vejo fazer o mesmo.
Sem que nada tenhamos voltado a falar sobre o tema.
Fiquei na dúvida
se o faria para imitar o tio, presente que estava, se porque entendera a
mensagem e a assumira como válida.
A minha surpresa não
teve limites quando, há uns tempos e muitos anos depois deste episódio, o vejo
fazer equivalente.
Não o levar a mão à
pala do boné, até porque não o usa, mas fazendo um discreto mas inconfundível aceno
de cabeça para o condutor que parara na passadeira para nos deixar passar.
Às vezes não é
preciso muito!
By me
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