Chegaram, mãe e
filho, este ao colo dela. Aliás, teria que ser assim se para trajectos maiores,
que o pirralho era tão piquinino que o seu andar pouco mais era que pôr um pé à
frente do outro para não cair.
Falámos um pouco e
fizemos a fotografia. E quedámo-nos na conversa, mesmo depois da função
terminada.
O pequenote, esse,
é que pouco se interessou no que dizíamos. Partiu para descobrir novos mundos,
na imensidão de uns dez metros em redor. E, sendo o seu caminhar o que era,
cedo caiu.
À distância a que
estava, a mãe constatou que nada de grave acontecera. Tal como eu. O minorca,
estendido ao comprido, de barriga para baixo, olhou em redor, sem choro ou
beicinho, verificou a proximidade da mãe e lá se levantou para mais uma
caminhada. Que acabou em queda de igual gravidade.
Afinal, é assim
que aprendemos a caminhar, caindo, levantando-nos e continuando. E aprendendo
como usar o que temos e onde e como pôr os pés.
A sua inexperiência
era tal que, passado pouco, ei-lo de novo no chão.
A mãe,
estrategicamente colocada na nossa conversa, ia verificando o resultado das
quedas, ao mesmo tempo que se certificava que o seu trajecto não coincidia com
o das bicicletas, skates ou patins que por ali pululam. Estava tudo controlado
e tranquilo.
Quem assim não
pensou foi uma velhinha, com ar de avó tremida mas extremosa, que à terceira
queda do aprendiz de caminhante, achou que era demais.
Levantou-se do seu
banco de jardim e, com uma dificuldade em caminhar equivalente à da criança,
abeirou-se dele e levantou-o do chão. Regressando de seguida ao seu lugar
sentado, não fora ser este selvaticamente ocupado por algum dos muitos outros
idosos do jardim.
Pouquinho tempo
depois, a cena repete-se: o pimpolho cai, a velhinha levanta-se e levanta-o e
regressa ao seu repouso. Tudo sob o olhar vigilante da mãe, que ia cavaqueando
comigo, à beira da minha câmara e tripé.
À terceira a coisa
foi diferente: Depois de levantar o pequeno, que continuava sorridente como
sempre, caminhou para nós com ele segurando-lhe o dedo. E a sua expressão
advertia das advertências que haveria de dar à mãe “descuidada”.
Nada
ouvi, que se encontraram a meio caminho, com troca de dedo agarrado. Trocado pela
perna da calça, à altura dos joelhos, quando regressaram para junto de mim.
Com um sorriso,
disse-me ela que este era um dos motivos para gostar do Jardim da Estrela: Fora
aqui que ele dera o seu primeiro passo e era aqui que estava a aprender a andar.
Bonito de ouvir!
Como que inspirado
na conversa, o rapazinho afastou-se caminhando, de novo em direcção ao local
onde a boa da velhinha continuava sentada. E a mãe, continuando a sorrir e
fazendo contrastar o tom dos dentes com o da pele, acrescenta: “É melhor ir
busca-lo antes que ela venha cá de novo!”
E foi, regressando
ele ao colo e com a mãozinha esticada para a pelagem branca que me cresce no
queixo e cara.
Quando, passado um
pouco, se foram de vez, fiquei pensando que, na verdade, a melhor forma de
aprender é ir caindo até aprender a coisa. E aproveitar a pequenez da altura
para que as quedas sejam pequenas e pouco dolorosas.
Acontece, porém,
que há sempre uma avozinha, cheia de boas intenções, que se intromete e tenta
mudar o curso natural da vida. E que, ou bem que já se esqueceram que foram
crianças e mães, ou bem que mais nada lhes resta fazer que interferir na vida
dos outros, queiram ou não eles que isso aconteça.
E quem é que está na
imagem? Pela certa que não se esperaria que eu aqui mostrasse os intervenientes
neste episódio em torno do meu “Oldfashion”!
Em alternativa
mostro este retrato. Que em comum com a estória apenas tem o local onde foi
feito e minha câmara de madeira. Que a estória falou de três gerações e aqui
mostro a Ana, vinda de um terceiro continente.
É que o Jardim da
Estrela é assim como que um centro do mundo, onde de tudo acontece e onde de
tudo converge.
Nota fotográfica
adicional – A tal luz de que gosto.
By me
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