No autocarro, de pé,
aquela mulher a rondar os 25 anos arregaça a manga esquerda e mostra o
antebraço ao homem, mais ou menos da mesma idade, a seu lado.
O gesto, em dia
frio, abanou-me. Mas mais que por ser dia frio.
Àquela distância pouco
mais consegui perceber que eram bonitas, as poucas letras tatuadas naquela pele
branca. Em tons de azul, uma maiúscula e talvez umas cinco minúsculas. A última
ficaria a menos de uma mão-travessa do pulso.
E enquanto
conversavam com o antebraço tatuado exibido, eu tremia. E não era do frio.
Que aquele gesto,
voluntário, quase coquete e encimado por um sorriso, me recordou um outro,
igual em muito, até no frio.
Repetido por milhões,
sem pretensões artísticas e muito menos de orgulho, foram o último grito da
tecnologia de há setenta anos no tocante a organização, sistematização e
controlo de pessoas.
Na imagem
conjuntos de agulhas usados para tatuar os números de série, à entrada de
prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz.
Naquele autocarro
comprido, naquela primeira manhã do ano, com o sol a entrar pela janela, tremi.
E não foi de frio!
By me
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