Exercício com piada é fazer de conta que se está perdido.
Numa zona da cidade que conhecemos, pedimos a quem passa
(mero transeunte, comerciante ou mesmo polícia) as indicações para se chegar a
um qualquer local na zona que implique mudar duas vezes de rua, pelo menos.
O que acaba por ter mesmo graça é constatar que as indicações
que nos dão para o mesmo local variam enormemente. Uns usam esquinas como
referência, outros lojas (farmácias, drogarias, moveis, centros comerciais)
outros semáforos, outros ainda contam quarteirões ou cruzamentos, alguns optam
pelo caminho indo pela direita, outros pela esquerda…
Suponho que haja tantas variações quanto pessoas, e que
dependem dos interesses de cada um, o género, a idade e, igualmente importante,
se frequenta a zona sempre a pé ou geralmente a conduzir.
Uma das referências habituais são os edifícios incomuns. Ou
pelo formato, ou pelo tamanho, ou pela cor… Se bem que a cor terá que ser
incomum para servir tal propósito.
Um destes dias perdi-me em Lisboa, numa rua que conheço bem.
Parei para acender um cigarro e observar o que por ali havia e, de súbito, não
reconheci o local.
Tratava-se de um cruzamento conhecido por possuir um prédio
bem alto, em betão e com uns trinta ou quarenta anos bem medidos, e cujas
colunas exteriores em cimento, bem evidentes, sempre estiveram pintadas de
amarelo. Era conhecido pelo “prédio amarelo”.
Pois desta feita, em olhando para ele, não o reconheci, que o
pintaram de branco. E esta mudança é de tal forma que, durante uns segundos,
não soube onde estava, tendo que passar ao modo “racional” para voltar a ter
referências.
Felizmente, noutra zona da cidade, os “prédios amarelos”
continuaram a sê-lo. Por muitos e longos anos, tal como os que já levam de
vida. Ali para os lados do Júlio de Matos, que também já não tem esse nome
formal mas que nunca será conhecido de outra forma.
Não há muitos prédios amarelos p’la cidade, mas convém que
continuem a sê-lo para que não nos perdamos na cidade em que nascemos.
By me
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