Uma
das perguntas que oiço com mais frequência é “Que câmara recomendas?”
A
minha resposta, se tenho alguma confiança com quem fala, é em regra algo deste
género “Todas e nenhuma!”, seguida de umas perguntas “Qual o orçamento
disponível, que tipo de fotografias queres fazer?”
É
que tenho para mim que não há câmaras multi-uso, válidas para todas as
circunstâncias. Multi-usos mesmo, quase perto da perfeição, só mesmo o canivete
suíço e o isqueiro Zippo.
Do
meu ponto de vista, a fotografia nasce dentro do fotógrafo, que vê com os olhos
da cara e com os olhos da alma o que está à sua frente e imagina como quer que
isso fique registado, usando para tal a ferramenta que possui. Neste processo,
o conhecimento das capacidades da sua ferramenta – a câmara e o tratamento
posterior – é vital!
Distâncias
focais e de foco, profundidades de campo e sensibilidades, acesso e
flexibilidade dos respectivos comandos, suporte final, peso, volume,
sustentação…São estes alguns dos factores que condicionam o seu uso.
Para
alguém que os não saiba, todas as câmaras são inúteis, caras e complicadas.
Para quem os conheça e saiba tirar partido do que dispõe, todas as câmaras são
boas.
Havia,
em tempos recuados, um anúncio televisivo já não sei a quê que usava da
seguinte frase “Não mate leões com fisga nem moscas com carabina!” No caso da
fotografia, poderia eu dizer: “Não faça reportagem de guerra com view-camera
nem macro de natureza com compacta!”
Mas
não significa isto que não seja possível! Faz muito que não trabalho com grande
formato e nunca estive em situação de conflito armado.
A
fotografia que acompanha estas linhas foi feita há uns anos valentes com a já
descontinuada Olympus Z3030, compacta de 3,3 MP, com uma objectiva de três
vezes e com todos os controlos manuais (tempo, abertura, foco, etc.)
dependentes do uso de cinco botões. Mais ainda, a verificação manual de foco é
feito no visor de LCD, sempre com uma aumento digital da imagem e um rigor
muito pouco exacto.
No
entanto, a familiaridade com a câmara permite ultrapassar a maioria das
dificuldades. No caso, ela estava colocada num pequeno tripé quase de bolso,
usando o meu chapéu como se pára-sol se tratasse e garantindo o foco com um
metro articulado de carpinteiro, para obstar à falta de rigor do visor.
Os
fabricantes de equipamento fotográfico tentam simplificar os processos,
compactando as câmaras e automatizando-as, criando os modelos a que chamaram de
“Bridge” e, mais modernamente, “Mirrorless”. Criam aquilo a que eu chamo de
“Câmaras à prova de idiota”, em que os automatismos se substituem ao fotógrafo.
Mas ainda não criaram um modelo de fotógrafo à prova de câmara.
Fotografar
significa, antes de mais, conhecer o assunto e a ferramenta e antecipar o
resultado final. O resto é uma questão de prática e de luz.
Divirtam-se
e aproveitem-na bem – a luz!
By me
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