Doeu-me!
Juro que me doeu até ao tutano!
Eu
a chegar àquele pseudo-reservado que é a cabine de voto, e um senhor junto a
ela, com ar de quem está confuso.
Um
bom bocado mais velho que eu, as cãs contrastavam com a tês escura e rugosa. As
suas roupas, limpas, pediam meças na idade com quem as usava. Numa mão o
boletim de voto ainda por dobrar, na outra a caneta. E olhava para o papel com
os olhos bem abertos.
Quando
me aproximei para fazer o que ali me tinha levado, pergunta-me ele, com ar atónito:
“Desta
vez não concorrem?”
“Perdão?”,
disse-lhe.
“O
PSD. Não o encontro aqui na lista.”
“Ah!
Desta vez concorre em coligação. Olhe: Está aqui, vê?” e apontei-lhe a linha e
os símbolos.
“Pois
é. Obrigado.” e virou-se para a pequena prateleira para fazer na privacidade
aquilo que anunciara aos quatro ventos.
Doeu-me!
Doeu-me
ver aquele idoso ir votar por seguidismo, ignorando por completo as propostas
do partido em que quer votar.
Doeu-me
ver aquela pessoa que, pelo aspecto e idade, mais tem sofrido que beneficiado
com as decisões e governação daquele partido. E que, apesar disso, insiste.
Doeu-me
ver-me na contingência de indicar a alguém o como votar naqueles que eu quero
correr do panorama governativo.
Por
vezes, ser coerente na prática da cidadania é bem doloroso!
By me
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