Quem
é ele? Confesso que não recordo o seu nome.
Recordo
apenas o local e a história.
Acampamento
circense na praça de touros do Campo Pequeno em Lisboa, por alturas do natal.
Acompanhei
um amigo jornalista para fazer a reportagem sobre esta forma de arte. A mais
detalhada foi sobre este palhaço.
Já
teria passado os 60 anos, quase de certeza. Toda a sua vida fora palhaço,
sempre em circos de terra em terra.
Entre
as muitas que contou, ficou-me apenas esta:
O
circo fora em digressão ao Açores. É complicada a logística de levar um circo a
um arquipélago. Assim, seguiram apenas as tendas dos espectáculos e as viaturas
para os animais. As residências (tendas e roulotes) dos artistas e demais
técnicos ficariam cá e por lá dormiriam em pensões.
Este
palhaço não se aguentou.
Foi
incapaz de dormir em quartos feitos de pedra.
Atabafava,
não respirava, sentia-se mal.
Interrompeu
a digressão e regressou ao continente.
Naquele
espaço exíguo onde nos recebeu orgulhoso, a sua casa sobre rodas, apinhada com
quase todos os objectos habituais numa residência acrescidos dos do ofício de
palhaço, senti-me mal. Preso a convenções, amarrado a hipotecas, dependente de
cartões e números impressos…
Lembrei-me,
na altura e agora, de uma outra história que se contava sobre o maestro José
Atalaya:
Quando
afastado de sua casa, dormia numa auto caravana. Todas as noites decidia onde
queria acordar no dia seguinte e de onde queria ver o nascer do sol.
Quem
diz que a felicidade passa por um palácio com muitos quartos, brocados nas
janelas e cobertas de seda?
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário