Fui ao médico.
Para os que possam ficar preocupados, não fiquem: não passou
de uma daquelas idas regulares, umas daquelas em que nos asseguram que não
somos eternos e que, mais cedo ou mais tarde, alguma maleita teremos.
Vim de lá saber mais ou menos o que sabia, pelo que nem seria
coisa digna de nota. Excepto…
Há sempre um excepto, mesmo nas coisas mais rotineiras,
felizmente.
A instituição a que fui era, para mim, uma estreia. No âmbito
da medicina no trabalho, a minha empresa mudou de prestador de serviços. Toda bonita,
modernaça, com um aspecto asséptico e mocinhas novitas na recepção.
E sendo “cliente” novo, havia que fazer ficha nova: nome, idade,
morada, telefone…
Foi aqui que a porca torceu o rabo!
“Não tenho.” Disse eu.
“Não tem telefone?!” exclamou ela.
“Na verdade tenho, mas não quero que fiquei aí, nessa base de
dados.” Esclareci, já habituado a ver olhos tão esgalgueirados como os dela.
“Mas… é de preenchimento obrigatório.”
“Nesse caso vou-me embora, que não lho direi.”
Foi nessa altura que surgiu uma mais velha, talvez a chefe de
turno, que lhe disse à boca pequena:
“Se não quiser dar, não dá.”
Nos tempos que correm parece ser obrigatório ter telefone. Móvel,
de preferência. É menos chocante associar a minha idade ao meu estado civil, ou
saber-se que não possuo carta de condução que saber que alguém decide, em
consciência, não fazer parte de uma base de dados. Mesmo que apenas pelo
telefone.
Mas se fosse importante para mim o não chocar os demais com
as minhas preferências, exigências mesmo, eu não seria eu: seria qualquer outro,
com outra forma de viver.
By me
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