Neste
mundo em que vivemos, as diferenças culturais são mais que muitas e bem
evidentes: a língua, as danças, a gastronomia, os trajes, a mitologia…
Viajar
de um ponto para outro distante pode ser pouco menos que um salto no escuro. A
capacidade de comunicação fica reduzida a muito pouco, se não se dominar a
língua, escrita ou falada. Sobram dois recursos, mais ou menos globais: o gesto
e a imagem, desenhada ou não.
Esta
é, sem sombra de dúvida, a parte da comunicação mais universal. Um cavalo é um
cavalo, na Europa, Ameríndia ou Ásia. Com excepção de alguns pontos ainda não
penetrados pela “civilização”, quem souber usar a imagem, sabe comunicar.
Mas
os padrões não são iguais. Há algumas diferenças, ainda que subtis, dividindo o
planeta em alguns grandes blocos. Quer tenha sido o desenho que influenciou a
escrita (fonética ou ideográfica) ou vice-versa, a verdade é que a forma como a
imagem se estrutura no espaço que ocupa varia.
Horizontal
ou vertical, esquerda/direita ou ao contrário, a organização dos elementos
pictóricos tem regras e significados diferentes.
A
globalização (que não apenas económica mas, e principalmente, cultural) tende a
padronizar estes aspectos, tal como outros. Mas a cultura não é algo que se
imponha por decreto, como provou a falhada revolução cultural chinesa.
Se
na fotografia, cinema e televisão, áreas que além de criativas são também
bastante técnicas, no quotidiano, na vida diária de cada um, as coisas são um
pouco diferentes.
A
imagem acima é disso um exemplo. É uma nota Afgã, divulgada por cá através de
um jornal.
Os
códigos de escrita estão bem definidos. Escrita regional, para os locais
entenderem, e caracteres mais ou menos universais para definir valor e origem.
Até aqui pouco há de invulgar.
Mas
observem-se os desenhos, os cavalos em particular. Correm da direita para a
esquerda, num galope livre e intenso.
Uma
leitura superficial pouco os dirá mas, a nós, ocidentais, mas não nos agradará.
De acordo com os nossos padrões, correm “para trás”, uma atitude retrógrada.
Poderíamos mesmo dizer que estão a fugir de algo. Mas para os Afgãos, onde a
escrita e a leitura se fazem da direita para a esquerda, este é o sentido da
liberdade, do progresso, do futuro.
Esta
imagem será, eventualmente, evocativa de um qualquer momento histórico local,
que dificilmente será o de uma derrota militar. A interpretação dos
utilizadores desta nota será a de confiança e de confiança naquilo que o
dinheiro significa.
Para
aqueles que como eu vivem e dependem da imagem, esta questão de orientar os
elementos que a constituem para um lado ou para o outro é banal. Fazemos isso
quase que por instinto, usando-o como uma ferramenta de base.
Mas
convém sempre lembrarmo-nos que os nossos códigos não são universais e que a
nossa comunicação depende da nossa capacidade em usar uma linguagem conhecida e
familiar do destinatário.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário