Eu
não queria falar na coisa. Mas de tanto por aí se falar e de nada nem ninguém o
referir, acho que rebento se não desabafar. Aqui vai:
Esteve
um candidato ao parlamento europeu em Peniche que declarou que o surf deveria
fazer parte dos currículos escolares.
Acredito
que o tenha feito a piscar o olho aos praticantes locais, aos comerciantes
locais, aos hoteleiros locais. Que pôr o país a praticar surf é um incremento
para o turismo (veja-se o exemplo de McNamara) e o alimentar o sonho de
crianças e jovens.
No
entanto, é sabido que não pratica surf quem quer mas só quem pode; não vai a
praias com ondas surfaveis quem quer mas só quem pode; não tem uma prancha de
surf quem quer mas só quem pode; não tem um fato de surf quem quer mas só quem
pode.
Pese
embora a densidade populacional na zona costeira em desfavor do interior e pese
embora a enormidade da orla marítima portuguesa, a prática de surf é para
elites. Elites com dinheiro para a sua prática.
É
assim estranho que esta candidata ao parlamento europeu tenha vindo defender a
prática curricular de um desporto de elite nas escolas públicas.
Ou
talvez não seja.
Que
é sabido que os candidatos a parlamentos, europeus ou nacionais, são elites
dentro dos respectivos partidos. E que os partidos se entendem como elites,
estando vedada a pertença a um partido se os demais membros não aceitarem a
inscrição.
O
sistema de gestão da coisa pública, vulgo governação, está reservado a elites. Que
assumem o nome de “partidos”. E que, uma vez eleitos para os cargos, excluem os
cidadãos da responsabilidade das decisões, alegando que a democracia
representativa assim o impõe.
No
dia em que vir uma organização politico-partidária defender e pôr em prática,
para além da demagogia popularuncha, o artigo dois da Constituição da República
Portuguesa (“… visando a democracia económica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa.”), contam com a minha participação
activa.
Até
lá, desculpem qualquer coisinha mas têm que levar comigo.
By me
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