quarta-feira, 21 de maio de 2014

Mensagens subliminares



Eu não queria falar na coisa. Mas de tanto por aí se falar e de nada nem ninguém o referir, acho que rebento se não desabafar. Aqui vai:

Esteve um candidato ao parlamento europeu em Peniche que declarou que o surf deveria fazer parte dos currículos escolares.
Acredito que o tenha feito a piscar o olho aos praticantes locais, aos comerciantes locais, aos hoteleiros locais. Que pôr o país a praticar surf é um incremento para o turismo (veja-se o exemplo de McNamara) e o alimentar o sonho de crianças e jovens.
No entanto, é sabido que não pratica surf quem quer mas só quem pode; não vai a praias com ondas surfaveis quem quer mas só quem pode; não tem uma prancha de surf quem quer mas só quem pode; não tem um fato de surf quem quer mas só quem pode.
Pese embora a densidade populacional na zona costeira em desfavor do interior e pese embora a enormidade da orla marítima portuguesa, a prática de surf é para elites. Elites com dinheiro para a sua prática.
É assim estranho que esta candidata ao parlamento europeu tenha vindo defender a prática curricular de um desporto de elite nas escolas públicas.

Ou talvez não seja.
Que é sabido que os candidatos a parlamentos, europeus ou nacionais, são elites dentro dos respectivos partidos. E que os partidos se entendem como elites, estando vedada a pertença a um partido se os demais membros não aceitarem a inscrição.
O sistema de gestão da coisa pública, vulgo governação, está reservado a elites. Que assumem o nome de “partidos”. E que, uma vez eleitos para os cargos, excluem os cidadãos da responsabilidade das decisões, alegando que a democracia representativa assim o impõe.

No dia em que vir uma organização politico-partidária defender e pôr em prática, para além da demagogia popularuncha, o artigo dois da Constituição da República Portuguesa (“… visando a democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.”), contam com a minha participação activa.

Até lá, desculpem qualquer coisinha mas têm que levar comigo.

By me 

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