Enquanto
cuidava do jantar, olhei para o contador de tempo.
Nem
sei bem porquê.
O
diabo do aparelho está parado há bem mais de três anos. Com o passar do tempo,
tenho vindo a esquecer de lhe pôr a pilha e assim vai ficando. Marcando um
momento, com a certeza de estar certo com algum ponto do globo.
Apercebendo-me
da inutilidade do gesto, olhei para o outro marcador de tempo. Gesto inútil.
Só
funciona quando o invertemos, ficando nós quase que hipnotizados com o cair da
areia de um parte para a outra. E não lhe toco há uns dias, aquando da última
vez que fiz esparguete aqui em casa.
Porque,
em verdade, só uso a ampulheta para isso: cinco minutos de cozedura, mesmo que
as outras duas areias, de cor diferente, marquem quatro e três minutos. O que
demais confecciono é a olho ou em função do evaporar da água ou da cor que
toma.
Tentei
uma terceira referência temporal. Desta feita auditiva.
Da
sala, o televisor jorrava imagens sem que ninguém as visse. Os sons, esses, diziam-me
que ainda não havia começado o noticiário. Há que saber a que horas começa o
noticiário. Não sei quanto falta, mas sei que ainda não passa.
Depois…
bem, depois pensei para com os elásticos, que botões não tinha: Para que raio
quero eu saber as horas? Comerei quando estiver pronto e nem um segundo antes.
Levarei o tempo necessário para que se mastigue e engula, quiçá dando algo que
fazer ao palato. E quando acabar a refeição acabo-a. Nem antes nem depois.
Uma
vez mais agradeci à minha distracção o ainda não ter colocado pilha no
malfadado aparelho. Ao menos aqui o tempo é meu e nunca o que me impõem.
By me
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