Elas
eram três, as velhotas.
E,
quando passei por elas, falavam entre si em Castelhano, o que indica, mas não assegura,
que fossem espanholas.
E
olhavam, como eu mesmo olhei de relance, para este painel indicador das
partidas seguintes. Constatando, como eu mesmo constatei, que faltavam uns bons
vinte minutos para o comboio seguinte.
Mas
o que seriamente nos diferenciava foi que eu entendi que ainda tinha tempo para
um cigarrinho, em subindo as escadas, enquanto elas protestavam contra o facto
de as partidas não serem à hora certa ou à meia hora certa mas sim à hora e
oito ou à meia e oito.
“Mas
que disparate”, percebi eu depois de traduzir o que diziam.
Estive
vai-não-vai para meter conversa, mas contive-me.
Não
creio que adiantasse alguma coisa explicar-lhes que, naquele mesmíssimo
momento, já eram 21:38 em algum ponto do globo. Tal como num qualquer outro
ponto, ainda seriam 21:00. O que as fazia estar atrasadas ou adiantadas em
relação a esses lugares. Que a hora solar de pouco se compadece com os
maquinismos que inventamos, tal como pouco importam os números mostrados ou as
posições arbitrárias dos ponteiros.
Acabei
por subir as escadas e ir fumar o meu cigarrito. Porque o queria, porque o
merecia e porque o meu relógio estava sincronizado com o Sol: já era de noite.
By me
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