sexta-feira, 9 de maio de 2014

O tempo e as velhotas



Elas eram três, as velhotas.
E, quando passei por elas, falavam entre si em Castelhano, o que indica, mas não assegura, que fossem espanholas.
E olhavam, como eu mesmo olhei de relance, para este painel indicador das partidas seguintes. Constatando, como eu mesmo constatei, que faltavam uns bons vinte minutos para o comboio seguinte.
Mas o que seriamente nos diferenciava foi que eu entendi que ainda tinha tempo para um cigarrinho, em subindo as escadas, enquanto elas protestavam contra o facto de as partidas não serem à hora certa ou à meia hora certa mas sim à hora e oito ou à meia e oito.
“Mas que disparate”, percebi eu depois de traduzir o que diziam.
Estive vai-não-vai para meter conversa, mas contive-me.
Não creio que adiantasse alguma coisa explicar-lhes que, naquele mesmíssimo momento, já eram 21:38 em algum ponto do globo. Tal como num qualquer outro ponto, ainda seriam 21:00. O que as fazia estar atrasadas ou adiantadas em relação a esses lugares. Que a hora solar de pouco se compadece com os maquinismos que inventamos, tal como pouco importam os números mostrados ou as posições arbitrárias dos ponteiros.

Acabei por subir as escadas e ir fumar o meu cigarrito. Porque o queria, porque o merecia e porque o meu relógio estava sincronizado com o Sol: já era de noite.

By me 

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