Quando
cheguei à paragem, ele já lá estava. Assim, como se vê. Com o acréscimo, não
visível, de usar gravata, óculos e chapéu preto na cabeça.
E
só lá estava ele. Tinha acabado de passar um autocarro da carreira que eu mesmo
queria usar, logo antecedido de um outro da outra carreira que ali passa, e só
lá estava ele.
Depois
de mim, outras pessoas foram chegando. Uma, duas, cinco… não muitas, que já
passava das sete da tarde, o comércio já estava fechado ou em vias disso, e os
transeuntes eram ou pareciam ser residentes na zona, de regresso a suas casas.
A maioria sem grandes pressas, parecendo querer aproveitar o fim do dia simpático
e a pacatez que se instalava. O próprio trânsito, sempre denso naquela avenida,
amainava.
Muito
pouco regulamentar, porque demasiado perto da paragem, uma carrinha de uma
empresa de publicidade havia estacionado. Os seus ocupantes foram beber uma
imperial (ouvi-os falar disso) num café em frente, e a viatura ficara de tal
forma que não se via o eventual aproximar dos autocarros.
Pese
embora haver ali um indicador do tempo de espera para cada carreira, tenho pela
prática muito pouca fé no que indicam. Vê-los lá ao fundo aproximarem-se é bem
mais rigoroso. Por isso estava eu alerta, espreitando de quando em vez quase já
na faixa de rodagem. Não que me preocupasse muito a meu respeito: rapidamente lhe
faria sinal de paragem, mesmo que a meros cinco metros, e rapidamente me
aproximaria dele para subir.
Mas
ele, sentado que estava, concentrado que estava na leitura, limitado que estava
nos movimentos, que a bengala bem o indicava, não seria tão lesto.
Chegou
um autocarro, que seguiu o seu caminho. Alguns ficaram, esperando pela carreira
que interessava. Eu e ele incluídos. Eu de olho na avenida e nele, ele de olho
no jornal, concentrado. Nem levantava a cabeça.
Quando,
finalmente, chegou a carreira que me interessava, ele nem se mexeu. Embarquei,
junto com os demais que ali estávamos, mas ele ficou, ali, numa paragem de
autocarro, lendo o jornal dobrado.
Suponho
que aquele banco de paragem de autocarro fique bem mais perto de sua casa que os
de jardim, a uns trezentos metros de distância. E protegido de alguma eventual
aragem ou humidade, com as suas paredes de vidro. E gratuitas, ao contrário das
do café em frente. Talvez bem mais luminosas e cosmopolitas que as de onde
reside, de alvenaria e opacas.
Talvez
que solitárias.
By me
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