Aquando
do surgimento dos primeiros “passes” electrónicos para os transportes públicos,
algumas foram as vozes (a minha incluída) que protestaram contra tal.
O
argumento foi que os sistemas de obliteração registavam a identidade do
passageiro, bem como o local de entrada e de saída no sistema, permitindo assim
ficar com um historial do trânsito de cada um que possuísse o novo passe.
Logo
as empresas de transporte vieram a terreiro afirmar que não, que não ficava
nenhum registo, que os obliteradores e cancelas apenas verificavam se o passe
estava ou não válido.
Este
desmentido por parte dos transportadores deixou de ser feito no final de 2009.
Veio
a público que os STCP (sociedade de transportes de colectivos do Porto) tinham
atribuído o prémio “passageiro frequente” a uma pessoa. De acordo com os “registos”,
aquela pessoa fora a que mais vezes ao longo do ano havia obliterado o seu
passe.
Como
raio saberiam eles isso se não houvessem registos?
A
parte gaga da história é que se veio a saber que o dito premiado era um
carteirista que, para não dar nas vistas como borlista, validava sempre o seu
passe. Foi reconhecido por fotografias publicadas na imprensa local aquando da
entrega do prémio.
Dirão
agora os cépticos: E que mal tem haver esses registo? Acabaram, com isso, por
apanhar um bandido.
Certo.
Excepto que também lá ficam registados todos os movimentos de todos outros
passageiros. Pessoas honestas que querem a sua privacidade e não a têm. Fica
esse registo nas mãos de uma entidade privada. Que dele fará o que entender,
legal ou não, às claras ou à sucapa. E sabemos o valor que tem no mercado uma
boa base de dados.
Tal
como fica registado todo o tráfego nas auto-estradas sem portageiro. Os portais
de controlo tratam disso, através da chamada “Via Verde”. Que está nas mãos de
entidades privadas. E que servirá agora para controlo de velocidade. E autuações
e processos policiais. E ficarão entidades privadas com o registo privado das
infracções ao código da estrada.
Tal
como fica registado nos serviços centrais dos grandes supermercados as compras
que cada um faz. Através do apetecido “cartão cliente”, que até dá descontos. Que
correlaciona as compras efectuadas com a identificação fiscal do cliente.
Continuo
a insistir na mesma tecla: a vida privada de cada cidadão é privada. Não tem
que andar em mãos de outras entidades, passeando-se em bases de dados cuja
segurança é o que se sabe: pequena se alguma.
Em
jeito de conclusão, sempre acrescento que a versão europeia da IBM (international
business machines) foi a entidade que desenvolveu o sistema de numeração dos
prisioneiros dos campos de concentração nazis.
Estávamos
nos primórdios do processamento de dados automático e já era isto que se fazia.
Na
imagem, roubada da net – um conjunto de agulhas para tatuar os números nos
prisioneiros.
Texto - By me
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