O
texto e a imagem remontam ao ano de 2006. Os factos relatados não seriam hoje
possíveis, face a actualizações tecnológicas. Pelo menos no local em causa.
Mas
fica a história e a pertinência das questões levantadas, sempre actual.
Com
grande frequência sou levado a entrar numa instituição. O seu acesso é
condicionado, pelo que só pessoas identificadas podem entrar. Existe uma
empresa de segurança que controla as entradas, em que os seus agentes verificam
as creditações, apoiados em sistemas de vídeo.
Aqueles
que, como eu, têm que lá ir com assiduidade possuem um cartão personalizado,
com o seu nome, função e fotografia inscritos. Os que só lá acedem
esporadicamente, são identificados à entrada através dos sistemas habituais e
é-lhes fornecido um cartão temporário.
Um
dia resolvi fazer uma brincadeira. Tratei de falsificar o cartão que possuía!
Ainda
que o pudesse fazer com um bom nível de qualidade, fiz questão de fazer uma má
falsificação. A mancha gráfica, tal como a palete de cores estava lá perto, mas
o resto nem pouco mais ou menos.
Para
começar, assumi o nome de “José Maria Pincel”. Em seguida reclamei para mim o
cargo de “Presidente da Junta”, O mais complicado foi mesmo a fotografia. Teria
que ser alguém com barbas e mais ou menos conhecido.
Ainda
pensei em Karl Marx, mas corria o risco de ser desconhecido para muita gente.
Optei então pela fotografia de Fidel Castro.
Durante
dois meses lá entrei com esta identificação. No decurso desses dois meses,
mudei de vestuário habitual, cortei a barba, mudei de chapéu. Mas mantive esse
cartão.
Resultado:
nunca questionaram a minha entrada nem vieram verificar a autenticidade da
identificação apresentada.
Admitindo
que, por causa da distância, não conseguiriam ler as palavras inscritas, no
mínimo seria de esperar que a fotografia levantasse algumas questões, mesmo
quando eu estava a usar barba. Para já não falar de quando a cortei. Nem isso.
Desta
experiência, podem-se retirar pelo menos duas elações:
Por
um lado, a segurança das instalações deixa muito a desejar. Essa era uma das
tónicas que eu queria deixar bem clara. E dei-me ao luxo de enviar o falso
cartão ao topo da hierarquia da instituição, junto com um relato das
circunstâncias, para o demonstrar.
Por
outro lado, e é o que é pertinente neste caso:
Será
que quando olhamos para uma fotografia ou objecto vemos efectivamente o que lá
está ou apenas aquilo que esperamos ver? Seremos sensíveis àquilo que nos é
transmitido visualmente ou apenas àquilo que os nossos filtros mentais deixam
passar?
Para
além de vos deixar estas perguntas, deixo-vos também uma sugestão:
Façam
um exercício semelhante a este. Na escola, no trabalho, na biblioteca, no
aeroporto, etc. E verifiquem as reacções. Mas com uma cautela: tenham por perto
a verdadeira identificação, não vá dar-se o caso de o funcionário ser zeloso e
eficaz!
By me
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