Ao
contrário do que muitos pensam, o difícil ao fotografar um objecto ou uma
pessoa não é o assunto propriamente dito.
Escolhida
uma perspectiva adequada, uma luz eloquente e ultrapassada a questão da
profundidade de campo, é muito fácil. Excepto…
Excepto
o fundo.
A
questão da contextualização do assunto fotografado é, provavelmente, o que mais
diferencia o pintor do fotógrafo.
Que
o primeiro pode, por decisão sua, nada incluir como fundo, deixando mesmo a
superfície da tela por tratar. Inclui dentro dos limites da tela apenas e só o
que entende, preocupando-se ou não com o restante.
Já
o fotógrafo assim não pode fazer. Mesmo que só queira fotografar um rosto ou um
objecto, o que lhe fica em redor faz parte da imagem e tem que ser tratado. Mesmo
que seja a escolha de um fundo neutro, ali colocado propositadamente, ou limitado
ao que demais existir atrás do assunto principal.
Técnica
usual em tempos de antanho era ter em estúdio um conjunto de adereços, incluindo
telões pintados, que fariam a contextualização do retratado. E era uma arte
escolhê-los e usá-los.
Com
o evoluir das técnicas e dos suportes, foi usada uma outra técnica, não
particularmente fácil: Atrás do assunto (pessoa ou objecto) era colocada uma
tela reflectora ou translúcida, onde eram projectadas imagens.
A
dificuldade técnica era encontrar um equilíbrio útil entre a luminosidade e
definição da imagem projectada e do assunto principal. Chegaram mesmo a ser
criados ecrãs de projecção de alto rendimento e particularmente orientáveis para
esse efeito.
Outra
abordagem possível para esta questão é o recurso a laboratório. Foto-químico ou
digital. Aquando da tomada de vista é colocado um fundo escolhido, branco ou colorido,
para ser retirado em laboratório e substituído pelo fundo que se pretende. O
Photoshop faz maravilhas nesse sentido.
Na
série de imagens que tenho vindo a fazer com umas figuras de estanho que
encontrei, resolvi usar “o melhor de dois mundos”.
Para
já, uma abordagem ao sabor de velhos tempos: sem recorrer a edições
posteriores. O que a câmara vê é o que mostro.
De
seguida, e dentro dessa linha, exibir atrás do assunto principal uma imagem que
de algum modo contextualize o assunto principal. Mas sem querer fazer supor que
o assunto se encontra ali, naquele fundo. A artificialidade é assumida.
Do
ponto de vista técnico, o suporte de exibição dos fundos é algo que todos temos
em casa: um monitor de computador. Escolher uma imagem (de arquivo ou feita de
propósito), ajustar o seu tamanho em função do ângulo de visão e usar de uma
profundidade de campo que, tornando-a muito pouco nítida, acaba por lhe dar
alguma força.
Resta
jogar com a luz, garantir que esta não incide no ecrã, dar-lhe uma orientação e
contrastes tais que não se tente enganar o espectador, fazendo-o crer que é
real o que vemos…
O
desafio, escolhida a abordagem e tornando-a padrão nesta série, é encontrar a
imagem certa, em conteúdo, proporções e leitura, para cada uma das figuras a
exibir.
Não
tenho muito a noção de como quem a vê gosta ou não do que vê. As reacções são
mais em função do assunto principal que em função dos fundos.
Por
mim, estou a gostar dos resultados, desta mistura de técnicas antigas e
modernas. Com a vantagem adicional de o fazer sentadinho da silva, o que não é
comum no trabalho fotográfico.
By me
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