domingo, 8 de junho de 2014

Farturas



Enquanto ele a ia fritando, íamos os dois cavaqueando. Vantagens de já nos conhecermos daquele lugar e desde o último natal. E de ter ele por primo um colega meu, descoberta fortuita em conversa equivalente: ele lá dentro de volta delas, eu guloso à espera delas.
E o tema versou as despesas, o custo da licença e mais do combustível e mais da energia no gerador e mais do gás e mais da matéria-prima…
O desfiar normal de queixas de quem está a viver em crise e depende da gulodice dos outros para sobreviver.
E continuou:
“Quando era pequeno, eram duas semanas em cada escola: a feira era aqui e eu ia a esta, a feira era ali e eu ia àquela, a feira era acolá e eu ia à outra…
Quando acabei a quarta classe, disse-me a minha mãe que já sabia muito e que era tempo de ganhar a vida. E fiquei assim, feirante toda a vida.”
E, enquanto elas, já retiradas do óleo fervente, eram cortadas nos tamanhos certos, perguntei eu meio a medo:
“E você era de longe de Lisboa?”
“Não! Nem pense! Era ali da Charneca do Lumiar, em Lisboa.”
Paguei o euro da tabela e afastei-me a degustar aquela fartura, com um toque raro que desconheço mas que recomendo.

E a pensar na ironia de haver quem tenha uma vida tão amarga e que tanto adoce a dos outros. Sempre com um sorriso!

By me

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