Quando me sentei
no comboio, nada tinha de especial para fazer. Não me apetecia retomar o livro
que tenho em mãos, nada do que ia vendo me sugeria uma imagem ou texto, o estar
em fim de jornada laboral não me dava energia em demasia. Amorfo, estava eu.
No banco em frente
ao meu um jornal daqueles gratuitos.
Chamar-lhe jornal
já é um elogio, mas é a classificação que tem e é assim que é conhecido.
Passo-lhe os olhos
por cima. Primeiro na última página, a que estava virada p’ro meu lado, depois
a capa, por fim as páginas interiores. Não conseguiu surpreender-me: Notícias
resumidas a menos de nada, requentadas de mais de dois dias algumas, sem algo
que acrescente o que quer que seja a quem quer que seja. O tom geral é o de
catástrofe à porta, disfarçado com um muito ligeiro toque de isenção. O
habitual.
Até que, ao passar
das páginas, poucas, dou com esta: a página dos anúncios. Aqui, talvez, haja
novidades.
Treze anúncios, de
tamanhos variados como se constata. A saber:
Dois para comprar
carros usados, mesmo que sucata;
dois de sistema de
empréstimos de dinheiro, aqueles empréstimos sobre os quais abundam os avisos
de cautela;
um anúncio a uma
escola: terceiro ciclo num ano só, secundário em um ou dois anos;
um anúncio de
distribuidores, sem que digam o que distribuem – esclarecedor;
um anúncio para um
concerto solidário – dizem onde, quando e para que reverte, não dizem quem
participa;
um anúncio de
apartamentos de férias no Algarve para alugar – interessante o dizerem que além
de mobilados estão decorados;
quatro anúncios de
videntes, sacerdotes, espiritualistas e cientistas – note-se que um deles
anuncia que resolve problemas de visões e cheiros estranhos para além dos
habituais encostos, aproximações e afastamentos, amores, negócios,
maus-olhados, e a tradicional garantia de rapidez, eficácia e honestidade.
É sempre
instrutivo ler a secção de classificados!
By me
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