quarta-feira, 11 de junho de 2014

Negócios



Quando me sentei no comboio, nada tinha de especial para fazer. Não me apetecia retomar o livro que tenho em mãos, nada do que ia vendo me sugeria uma imagem ou texto, o estar em fim de jornada laboral não me dava energia em demasia. Amorfo, estava eu.
No banco em frente ao meu um jornal daqueles gratuitos.
Chamar-lhe jornal já é um elogio, mas é a classificação que tem e é assim que é conhecido.
Passo-lhe os olhos por cima. Primeiro na última página, a que estava virada p’ro meu lado, depois a capa, por fim as páginas interiores. Não conseguiu surpreender-me: Notícias resumidas a menos de nada, requentadas de mais de dois dias algumas, sem algo que acrescente o que quer que seja a quem quer que seja. O tom geral é o de catástrofe à porta, disfarçado com um muito ligeiro toque de isenção. O habitual.
Até que, ao passar das páginas, poucas, dou com esta: a página dos anúncios. Aqui, talvez, haja novidades.
Treze anúncios, de tamanhos variados como se constata. A saber:
Dois para comprar carros usados, mesmo que sucata;
dois de sistema de empréstimos de dinheiro, aqueles empréstimos sobre os quais abundam os avisos de cautela;
um anúncio a uma escola: terceiro ciclo num ano só, secundário em um ou dois anos;
um anúncio de distribuidores, sem que digam o que distribuem – esclarecedor;
um anúncio para um concerto solidário – dizem onde, quando e para que reverte, não dizem quem participa;
um anúncio de apartamentos de férias no Algarve para alugar – interessante o dizerem que além de mobilados estão decorados;
quatro anúncios de videntes, sacerdotes, espiritualistas e cientistas – note-se que um deles anuncia que resolve problemas de visões e cheiros estranhos para além dos habituais encostos, aproximações e afastamentos, amores, negócios, maus-olhados, e a tradicional garantia de rapidez, eficácia e honestidade.


É sempre instrutivo ler a secção de classificados!

By me

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