Um
compincha de outros tempos dizia que só há dois tipos de fotografias: as
tremidas e as feitas com tripé.
Claro
que esta afirmação é de outros tempos, em que a tecnologia não era a que há
hoje.
E
claro que ele gostava de exagerar e brincar com as coisas.
Mas
sabia do que falava!
Conseguir
que um objecto, não importa qual, esteja firme e sem trepidação implica aplicar
sobre ele uma força igual e de sentido contrário à da força da gravidade sobre
ele.
Os
nossos músculos, assim, têm que fazer o trabalho de igualar, ao rigor do grama,
o peso daquilo que sustentamos. E, sabemo-lo todos, quanto mais pesado mais difícil
é fazê-lo. Ou quanto mais longa for a duração do agarrarmos o objecto. Ou
quanto mais afastado do corpo estiver.
No
caso da fotografia podemos sustentar com razoavelmente bons resultados uma câmara
pequena, com uma mão e se usada uma grande angular.
Mas,
e na medida em que aumentemos o peso da câmara ou diminuamos o ângulo de visão
da objectiva, mais difícil se torna o conseguir uma imagem estável sem recurso
a sustentação adicional.
As
duas mãos, uma de cada lado da câmara; uma mão na câmara e outra por baixo da
objectiva; os braços bem juntos ao corpo; as pernas ligeiramente abertas; o
suster a respiração no momento do disparo; o encostar a um poste ou esquina; um
monopé; um tripé… Tudo isto sabemos e usamos.
Claro
está que as actuais câmaras fotográficas possuem sistemas de estabilização que
permitem imagens nítidas com tempos de exposição mais longos. Aquilo que,
dantes era um limite, agora estendeu-se muito simpaticamente.
Verdade?
Nem tanto!
Havia,
em tempos, uma regra simples que nos permitia saber qual o tempo máximo de
exposição possível antes de ficar “tremida” se usada à mão: o inverso da distância
focal usada era o limite.
Se
com uma 50mm, 1/60” era o limite. Se com uma 28mm, 1/30” era o limite. Se com
uma 200mm, 1/250” era o limite. Tempos mais longos só com muita experiência. E
só um “salto”, “stop” ou “EV”: 1/30”, 1/15”, 1/125”.
Entenda-se
que estes valores de distância focal (mm) se aplicavam a película e com rolos
de 135. Para o médio formato e o grande formato, os valores eram outros.
Isto
porque o que importa é, em boa verdade, o ângulo de visão da objectiva. Quanto
menor o seu ângulo – ou mais potente a objectiva - mais fácil o tremer. E vice
versa.
O
que significa, “grosso modo”, que se aqueles valores se aplicam, hoje, no
formato digital “full frame”, se alteram quando falamos de formatos de sensor APS-C,
4/3 ou nas compactas.
Fazer
contas ao formato que se usa, quais os ângulos das objectivas que se usa,
verificar qual a nossa própria estabilidade com a câmara na mão e saber, com
razoável certeza, quais os tempos de exposição que nos estão “interditos” é uma
enorme mais valia para o que fazemos.
Claro
está, dirão alguns, que as câmaras hoje possuem o estabilizador de imagem, que
evitam que as fotografias fiquem tremidas.
Mentira!
Evitam
que algumas fotografias fiquem tremidas!
Os
estabilizadores de imagem, incorporados nas objectivas no caso de algumas
marcas, incorporados no corpo da câmara noutras marcas ou modelos, mais não fazem
que aplicar uma trepidação controlada sobre o sistema. Em função do ângulo de
visão da objectivas. E, supõe-se, será de sentido inverso e em oposição de fase
àquela que os nossos músculos imprimem ao conjunto que seguramos, anulando-a.
Isto
é válido se:
a)
a nossa trepidação for constante e uniforme, tal como a que a câmara aplica ao
sistema. Não é! Se os nossos músculos fossem assim tão rigorosos, com
facilidade conseguíamos estabilizar nós mesmos o que seguramos. E sabemos que não
conseguimos.
b)
se não abusarmos no tempo de exposição em função da distância focal. Uma
objectiva de 1000mm, usada apenas com a mão… bem podem colocar estabilizadores
de imagem que, com tempos mais longos que 1/250” ou mesmo 1/500” (com muita prática,
uma noite bem dormida e sem café pelo caminho) ficará tremida com ou sem
estabilizadores de imagem.
Torna-se,
assim, vital sabermos que objectiva e que tipo de câmara temos na mão, e que
tempo de exposição vamos usar. Mesmo com câmaras compactas ou mesmo com câmaras
incorporadas em telemóveis.
Sabermos
se a zoom (se for esse o caso) está muito ou pouco “fechada” e termos o hábito
de olhar para a indicação de tempo de exposição escolhido pelo automatismo da câmara
(se for esse o caso) evita muita frustração quando, mais tarde – demasiado tarde
– vemos que as fotografias ficaram tremidas. Aquele instantâneo do pimpolho a
soprar as velas ou do pássaro a mergulhar na água, tremido arranca-nos um
valente palavrão (mesmo que proferido para dentro) ao olhar para o ecrã do
computador ou a impressão vinda do laboratório.
Técnica
passível de nos dar algumas certezas antes de fazer a fotografia crucial é fazer
uma de teste nas condições que supomos funcionarem. E, de seguida, vê-la no ecrã
da câmara, ampliada tanto quanto a câmara permitir, aquilatando, assim, da estabilidade
da tomada de vista.
E
qualquer dos casos, nunca esquecer o que dizia aquele meu compincha: “Ou são
feitas com tripé ou ficam tremidas!”
By me
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