quarta-feira, 11 de junho de 2014

Tremidas ou...



Um compincha de outros tempos dizia que só há dois tipos de fotografias: as tremidas e as feitas com tripé.
Claro que esta afirmação é de outros tempos, em que a tecnologia não era a que há hoje.
E claro que ele gostava de exagerar e brincar com as coisas.
Mas sabia do que falava!

Conseguir que um objecto, não importa qual, esteja firme e sem trepidação implica aplicar sobre ele uma força igual e de sentido contrário à da força da gravidade sobre ele.
Os nossos músculos, assim, têm que fazer o trabalho de igualar, ao rigor do grama, o peso daquilo que sustentamos. E, sabemo-lo todos, quanto mais pesado mais difícil é fazê-lo. Ou quanto mais longa for a duração do agarrarmos o objecto. Ou quanto mais afastado do corpo estiver.
No caso da fotografia podemos sustentar com razoavelmente bons resultados uma câmara pequena, com uma mão e se usada uma grande angular.
Mas, e na medida em que aumentemos o peso da câmara ou diminuamos o ângulo de visão da objectiva, mais difícil se torna o conseguir uma imagem estável sem recurso a sustentação adicional.
As duas mãos, uma de cada lado da câmara; uma mão na câmara e outra por baixo da objectiva; os braços bem juntos ao corpo; as pernas ligeiramente abertas; o suster a respiração no momento do disparo; o encostar a um poste ou esquina; um monopé; um tripé… Tudo isto sabemos e usamos.
Claro está que as actuais câmaras fotográficas possuem sistemas de estabilização que permitem imagens nítidas com tempos de exposição mais longos. Aquilo que, dantes era um limite, agora estendeu-se muito simpaticamente.
Verdade? Nem tanto!
Havia, em tempos, uma regra simples que nos permitia saber qual o tempo máximo de exposição possível antes de ficar “tremida” se usada à mão: o inverso da distância focal usada era o limite.
Se com uma 50mm, 1/60” era o limite. Se com uma 28mm, 1/30” era o limite. Se com uma 200mm, 1/250” era o limite. Tempos mais longos só com muita experiência. E só um “salto”, “stop” ou “EV”: 1/30”, 1/15”, 1/125”.
Entenda-se que estes valores de distância focal (mm) se aplicavam a película e com rolos de 135. Para o médio formato e o grande formato, os valores eram outros.
Isto porque o que importa é, em boa verdade, o ângulo de visão da objectiva. Quanto menor o seu ângulo – ou mais potente a objectiva - mais fácil o tremer. E vice versa.
O que significa, “grosso modo”, que se aqueles valores se aplicam, hoje, no formato digital “full frame”, se alteram quando falamos de formatos de sensor APS-C, 4/3 ou nas compactas.
Fazer contas ao formato que se usa, quais os ângulos das objectivas que se usa, verificar qual a nossa própria estabilidade com a câmara na mão e saber, com razoável certeza, quais os tempos de exposição que nos estão “interditos” é uma enorme mais valia para o que fazemos.

Claro está, dirão alguns, que as câmaras hoje possuem o estabilizador de imagem, que evitam que as fotografias fiquem tremidas.
Mentira!
Evitam que algumas fotografias fiquem tremidas!
Os estabilizadores de imagem, incorporados nas objectivas no caso de algumas marcas, incorporados no corpo da câmara noutras marcas ou modelos, mais não fazem que aplicar uma trepidação controlada sobre o sistema. Em função do ângulo de visão da objectivas. E, supõe-se, será de sentido inverso e em oposição de fase àquela que os nossos músculos imprimem ao conjunto que seguramos, anulando-a.
Isto é válido se:
a) a nossa trepidação for constante e uniforme, tal como a que a câmara aplica ao sistema. Não é! Se os nossos músculos fossem assim tão rigorosos, com facilidade conseguíamos estabilizar nós mesmos o que seguramos. E sabemos que não conseguimos.
b) se não abusarmos no tempo de exposição em função da distância focal. Uma objectiva de 1000mm, usada apenas com a mão… bem podem colocar estabilizadores de imagem que, com tempos mais longos que 1/250” ou mesmo 1/500” (com muita prática, uma noite bem dormida e sem café pelo caminho) ficará tremida com ou sem estabilizadores de imagem.

Torna-se, assim, vital sabermos que objectiva e que tipo de câmara temos na mão, e que tempo de exposição vamos usar. Mesmo com câmaras compactas ou mesmo com câmaras incorporadas em telemóveis.
Sabermos se a zoom (se for esse o caso) está muito ou pouco “fechada” e termos o hábito de olhar para a indicação de tempo de exposição escolhido pelo automatismo da câmara (se for esse o caso) evita muita frustração quando, mais tarde – demasiado tarde – vemos que as fotografias ficaram tremidas. Aquele instantâneo do pimpolho a soprar as velas ou do pássaro a mergulhar na água, tremido arranca-nos um valente palavrão (mesmo que proferido para dentro) ao olhar para o ecrã do computador ou a impressão vinda do laboratório.
Técnica passível de nos dar algumas certezas antes de fazer a fotografia crucial é fazer uma de teste nas condições que supomos funcionarem. E, de seguida, vê-la no ecrã da câmara, ampliada tanto quanto a câmara permitir, aquilatando, assim, da estabilidade da tomada de vista.


E qualquer dos casos, nunca esquecer o que dizia aquele meu compincha: “Ou são feitas com tripé ou ficam tremidas!”

By me

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