Foi ela que veio
ter comigo. Juro que foi!
Enquanto eu
acendia um cigarro, entretido que estava nos pensamentos técnico/pedagógicos
que ali me haviam levado, chega-se à minha beira.
Num inglês,
absolutamente de escola e mal aprendido, pede-me um cigarro.
Olhei-a. Fiquei na
dúvida no que lhe responder, mas isso são coisas que não me atrapalham muito,
como se sabe.
E, com um sorriso
de orelha a orelha, respondei-lhe: “Se por pedires em bom e velho português…”
Ficou à toa, como
eu imaginava. A sua juventude, aliada ao demonstrar coragem junto das suas duas
amigas que observavam a situação à distância de um banco de jardim, não lhe
dava bagagem para tanto.
Mas inflecti a
conversa: “De outra forma: troco!”
Ficou ainda mais
desconsertada, agora com uma curiosidade que a sua imaginação não conseguia
satisfazer.
Continuei: “Troco
um cigarro por uma fotografia dos seus olhos.”
É uma tirada
velha, para mim. Para ela, como para a maioria das pessoas nestas circunstâncias,
é a total novidade. E, em regra, acedem. Esta não foi excepção.
Apesar de ter
comigo a DSLR, a 50mm que a equipava não fazia o serviço. É uma topa-a-tudo,
mas não tanto.
Rapei da câmara de
bolso, que estava no bolso, e recorrendo ao foco manual – coisa de que não
gosto nela – fiz o que havia de ser feito, depois de lhe dar o cigarro.
Claro que as
amigas vieram ver o que se passava, quiseram ver a fotografia, ela quis certificar-se
que era mesmo só os olhos e, quando lhe perguntei por um nome para pôr na
fotografia, perguntou-me para quê e que iria fazer com ela.
Lá lhe contei que
não gosto de dar números a pessoas e que colocaria na web, na minha pag do
Face, entre outros. Acedeu e deu-me um nome, que acredito ser fictício.
Foi ela para junto
das amigas e fui eu fazer o que ali me levara, ao Jardim da Estrela: verificar
se as minhas contas para uns exercícios práticos funcionavam ou se haveria que
os mudar.
Andei de um lado
para o outro, olhando o céu e as árvores, avançando e recuando com a câmara na
mão. Contando mesmo distâncias em passos.
Passada uma meia
hora, e ia eu sentar-me para escrever as conclusões, vem ela ter comigo.
Pedir-me que apagasse a fotografia.
Foi a minha vez de
ficar de cara à banda. Nunca tal me sucedera. E, perguntando-lhe o porquê,
disse-me que a não queria na net.
Disse-lhe que sim,
que naturalmente que sim, e ainda lhe perguntei se não quereria ficar com uma cópia,
antes de ser apagada. Não queria e ficou satisfeita quando lhe passei a câmara
para as mãos e lhe expliquei que ela ficaria mais descansada se fosse ela mesmo
a apagar. Fê-lo, agradeceu e afastou-se para junto das amigas.
Fiquei meio
furioso. Tão meio quanto o eu ter e não ter quebrado um dogma, velho de decénios:
não apagar originais. Nunca!
Mas como não fui
eu que o apaguei… E faz sentido que alguém queira dispor da sua imagem,
querendo-a ou não nas mãos de estranhos ou espalhadas no mundo virtual.
Ficou-me o nome, o
único vestígio deste episódio. Que, muito naturalmente, não o deixarei aqui.
O que deixo, antes
sim e em jeito de vingança, é esta fotografia feita talvez que umas duas horas
depois. Que diabo: Alguma coisa teria eu que ter para ilustrar a estória e, na
falta dos olhos, fica algo quase tão bonito como os dela. Desta feita recorrendo
à topa-a-tudo.
By me
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