Encontrámo-nos
à entrada do prédio: ela com o pimpolho p’la mão, eu com pão quente na mão.
Enquanto
esperávamos p’lo elevador, pergunta ela p’ra quebrar o silêncio:
“Então?
Está tudo bem?”
“Claro
que tem que estar!”, respondo, acrescentando “E se não estiver, passa a estar à
estalada.”
“Ai,
à estalada é que não!” exclamou ela.
“Tem
razão. Por vezes tem mesmo que ser a tiro.”
“A
tiro seria bem pior. Onde estaríamos nós se resolvêssemos as coisas a tiro?”
Sorri
e calei-me. O olhar censório dela e o olhar inquiridor do pimpolho impediram-me
de lhe explicar que se aquilo que aconteceu quando ela ainda nem tinha nascido
tivesse sido a tiro, talvez que hoje não estivéssemos como estamos. Mas não
creio que o entendesse.
Para
tentar redimir-me da opinião de “perigoso revolucionário” (ou para a reforçar),
expliquei-lhe sempre a sorrir por entre as barbas o que faço com o chamar os
elevadores ao piso zero, para que evitemos ter que estar muito tempo à espera
quando chegamos a casa.
“É
um querido”, disse ela em saindo do tal elevador que tínhamos esperado e com um
sorriso confuso.
Espero
que a opinião ou o gesto lhe fiquem no espírito. Com sorte, os dois.
By me
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