quinta-feira, 5 de junho de 2014

No elevador



Encontrámo-nos à entrada do prédio: ela com o pimpolho p’la mão, eu com pão quente na mão.
Enquanto esperávamos p’lo elevador, pergunta ela p’ra quebrar o silêncio:
“Então? Está tudo bem?”
“Claro que tem que estar!”, respondo, acrescentando “E se não estiver, passa a estar à estalada.”
“Ai, à estalada é que não!” exclamou ela.
“Tem razão. Por vezes tem mesmo que ser a tiro.”
“A tiro seria bem pior. Onde estaríamos nós se resolvêssemos as coisas a tiro?”
Sorri e calei-me. O olhar censório dela e o olhar inquiridor do pimpolho impediram-me de lhe explicar que se aquilo que aconteceu quando ela ainda nem tinha nascido tivesse sido a tiro, talvez que hoje não estivéssemos como estamos. Mas não creio que o entendesse.
Para tentar redimir-me da opinião de “perigoso revolucionário” (ou para a reforçar), expliquei-lhe sempre a sorrir por entre as barbas o que faço com o chamar os elevadores ao piso zero, para que evitemos ter que estar muito tempo à espera quando chegamos a casa.
“É um querido”, disse ela em saindo do tal elevador que tínhamos esperado e com um sorriso confuso.

Espero que a opinião ou o gesto lhe fiquem no espírito. Com sorte, os dois.


By me

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