quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Pecadilhos



Estas são as cancelas de acesso aos cais de embarque da CP. Pelo menos na linha onde moro. E, neste caso, vistas depois de as transpormos.
Estas cancelas, ou canais como eles lhes chamam, impedem que se suba aos cais e aos comboios quem não tiver bilhete válido e obliterado nos sistemas que possuem. As cancelas da esquerda são as comuns, a da direita é chamada de “canal especial”, por onde devem e podem passar quem se fizer deslocar em cadeira de rodas, com crianças pequenas ou volumes grandes, passíveis de ficarem presos nas outras, mais estreitas e rápidas. O seu funcionamento é a três tempos: carrega-se num botão para que se abra a primeira porta, entramos e apresentamos o bilhete no validador, fecha-se a de trás e abre-se a da frente.
Mas muitos são os que, aproveitando o tempo de abertura para que um passageiro passe, empurram e passam também, na esperança de no comboio não encontrarem revisor. Tal como muitos são que usam o canal especial para passarem três ou quatro com um único bilhete.
E muitos são também os que, em dias de greve ou de avarias, em que as cancelas estão abertas, as transpõem sem obliterar.
Claro que cada um fará como entender, tal como eu mesmo. E o meu código de conduta leva-me a que, de cada vez que nelas passo faça a validação do bilhete. Uma questão de princípio, que em nada se prende com fiscalizações mas antes como conceito de “se uso, pago-o”. Simples.

Hoje cometi uma infracção. Assumida, deliberada e provocada por mim.
Junto às cancelas vejo uma senhora, com ar modesto e uma gravidez já avançada, a tentar passar “à boleia” com outro passageiro. E a não conseguir, que a agilidade já era pouca mas o volume muito.
Uma vez, duas vezes, três vezes. Uma delas ia mesmo ficando entalada, naturalmente que na barriga. “Saltou-me a tampa”!
Aproximei-me dela e atirei-lhe um “Venha comigo”, dirigindo-me para o canal especial. E ela veio. Abri-o, entrei e esperei que ela entrasse também. Claro está que dois outros aproveitaram a “boleia”, empurrando-a como não deveriam fazer.
E lá coloquei o meu próprio bilhete onde deveria, as portas fecharam-se e abriram-se pela ordem correcta, e passámos todos.
Não sou responsável p’los actos dos demais mas tão só p’los meus. Mas não me estava a apetecer que aquela futura criança, que de comboios ainda só conhece a trepidação e o som, fosse já apanhada p’las imposições e proibições que hoje temos que viver. Terá muito tempo p’ra isso, espero eu, ao mesmo tempo que saberá o que é o ar fresco de uma estação subterrânea em dia de muito calor.
Dou de barato a ilegalidade cometida p’lo bem-estar da criança.

O interessante no meio de tudo isto foi a conversa dela, enquanto subíamos as escadas e esperávamos p’lo comboio.
Entrecortada por vários agradecimentos, sempre me contou que morava a meia distância entre esta e a estação seguinte, mas que o caminho a partir da outra é mais fácil, com menos subidas beras de fazer. E que, noutras circunstâncias teria ido a pé. Mas que estando assim…

Espero que não tenha encontrado um revisor e que, na estação seguinte, alguém lhe tenha facilitado a passagem.

By me 

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