Comecei
a fazer fotografia publicitária há mais de trinta anos, com um compinhcha de
muitas andanças e uma câmara emprestada.
Não
se tratavam de imagens de glamour, p’lo menos de início, mas antes de produtos
que constariam em catálogos.
Os
primeiros trabalhos aconteceram na casa dele, de noite, depois de a sua família
recolher à cama e a sua sala ficar disponível. Mais tarde aluguei um espaço,
que funcionou como laboratório e estúdio, onde trabalhávamos.
A
câmara era como esta, cuja imagem fui rapinar na net: uma MPP 4x5 ou, se
preferirem, 9x12. Ou seja, o negativo tem nove por doze centímetros. A
objectiva era uma Schneider Xenar 150mm F:5,6. Quando pude, comprei uma Linhoff
9x12, deixando de recorrer a empréstimos.
Gastávamos
horas para fazer uma fotografia, por vezes uma noite inteira. A nossa inexperiência
e o improviso com equipamento (iluminação, uma só objectiva, ausência de espaço
e mesa de trabalho adequada…) a isso levava.
De
manhã, ensonado de uma noite em claro, zarpava eu para o laboratório da AGFA,
nos arrabaldes da cidade, para entregar os trabalhos. Horas depois, duas ou
três, ia buscá-las.
Eu,
e os demais que ali tinham ido p’lo mesmo, “batíamo-nos” por um espaço
confortável na grande mesa de luz que ali havia para, com uma lupa, verificar a
qualidade do que havíamos feito.
Com
os preciosos diapositivos (que os trabalhos eram fotografados e entregues em
diapositivo 9x12) na caixa e esta na pasta, dirigia-me a uma cabine telefónica
para informar o sócio que tudo estava bem e que não havia que repetir nada.
Estas
vivências, já velhas, deram-nos algo que hoje já é difícil de encontrar:
disciplina.
As
incertezas sobre o resultado, o só o sabermos horas depois e longe do local do
trabalho, a ansiedade da espera e o respectivo custo dos materiais e
laboratório, levavam-nos a que cada vez que disparávamos a câmara tivéssemos
todas as certezas possíveis. Luz (quantidade e qualidade), composição, nitidez
e profundidade de campo, controlo de perspectiva… tudo isto tinha que ser
perfeito antes de colocarmos o chassis com a chapa no lugar do despolido onde
víamos a imagem, invertida, através da lupa de focagem.
Hoje,
todos estes aspectos são verificados segundos depois, minutos se houver como
ver no ecrã de um computador. As imagens de teste e ensaio são passíveis, que
não há custos associados, e as correcções acontecem em função de uma imagem
feita e não apenas antevista p’la experiência (que não tínhamos muita).
Não
seria correcto dizer que esses eram tempos melhores. Apenas diferentes. Nos
suportes, nas tecnologias, nos métodos. Até nos custos e preços de mercado.
Mas
mesmo a “disciplina” de então será possível hoje, desde que para tal estejamos
dispostos.
Saber
“ver” a imagem resultante ainda antes do click é, do meu ponto de vista, vital.
Saber olhar p’lo visor da câmara e, aí, aquilatar e gerir a composição e gestão
de espaço; saber olhar para o assunto e saber avaliar e medir a luz, nas
vertentes de quantidade e qualidade; saber de que forma o suporte (película ou
sensor) reage às cores e contrastes; saber decidir qual o ponto de vista
adequado, mesmo antes de colocar a câmara e tripé…
Tudo
isto é possível seja qual for a tecnologia empregue. É apenas uma questão de
“disciplina pessoal”. De saber pensar antes de fotografar, de saber ver mais
que olhar.
E,
nos tempos que correm, com a enorme vantagem de não ter que esperar, ensonado e
num qualquer café, que o laboratório faça o seu trabalho e bem.
By me
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