quarta-feira, 3 de julho de 2013

Leituras



Eis algo que já não é nada vulgar de ver.
Não me refiro ao acto de leitura de um livro. Sabemos que a leitura de um ou mais livros é uma atitude subversiva e a actual sociedade de informação tem tratado de a banir do quotidiano, não vá haver mais gente a ler (e consequentemente a pensar) que aquela que convém ao sistema instituído.
Também não me refiro ao acto de leitura de um livro no comboio. É sabido que os comboios foram, essencialmente, inventados como salas de leitura rolantes. Claro que os novos tempos vão transformando os livros em I-Pads, telemóveis, computadores, pasquins gratuitos, etc. Mas ainda sobram alguns com velhos hábitos.
O que é mesmo raro de ver é alguém a ler um livro dando-lhe esta forma. Bem raro mesmo! Era assim que se liam livros de aventuras – cow-boys, guerra, ficção científica e outros – quando eu era catraio. Dependia, claro, da edição: se fosse de lombada estreita, de bolso, seria provável que esta fosse a pose. Um bom local par, então, se obterem estes livros era no barbeiro, que os costumava ter para empréstimo entre os seus clientes, tanto para irem lendo enquanto aguardavam vez como mesmo para levar para casa. Sabia-se que voltaria em dias. Agora se fosse de capa rija, garantido que não sofreria estes tratos de polé.
Mas este hábito de assim ler, quase em desuso por cá, parece ter sido agora importada por alguns leitores. Refiro-me a leitores com origem no leste europeu. Quando vejo alguém segurando um livro desta forma, vou dar uma olhada, discreta claro. E é garantido a 99% que está escrito em cirílico. Tal como é garantido, a 100%, que o ou a leitora, estão profundamente embrenhados na leitura. Tão a fundo que, por vezes, nem reparam que chegaram à sua estação de destino.
Acredito firmemente que o acto de ler na língua e caracteres aprendidos em tenra idade seja uma forma de ultrapassar as agruras de quem está longe das origens e dos seus, por vezes em péssimas condições materiais.

Tal como acredito que em chegando novos exemplares por cá, quer enviados pelo correio quer por mão amiga, sejam avidamente disputados por quem deles tenha conhecimento.

By me 

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