Eis
algo que já não é nada vulgar de ver.
Não
me refiro ao acto de leitura de um livro. Sabemos que a leitura de um ou mais
livros é uma atitude subversiva e a actual sociedade de informação tem tratado
de a banir do quotidiano, não vá haver mais gente a ler (e consequentemente a
pensar) que aquela que convém ao sistema instituído.
Também
não me refiro ao acto de leitura de um livro no comboio. É sabido que os
comboios foram, essencialmente, inventados como salas de leitura rolantes. Claro
que os novos tempos vão transformando os livros em I-Pads, telemóveis,
computadores, pasquins gratuitos, etc. Mas ainda sobram alguns com velhos hábitos.
O
que é mesmo raro de ver é alguém a ler um livro dando-lhe esta forma. Bem raro
mesmo! Era assim que se liam livros de aventuras – cow-boys, guerra, ficção
científica e outros – quando eu era catraio. Dependia, claro, da edição: se
fosse de lombada estreita, de bolso, seria provável que esta fosse a pose. Um
bom local par, então, se obterem estes livros era no barbeiro, que os costumava
ter para empréstimo entre os seus clientes, tanto para irem lendo enquanto
aguardavam vez como mesmo para levar para casa. Sabia-se que voltaria em dias.
Agora se fosse de capa rija, garantido que não sofreria estes tratos de polé.
Mas
este hábito de assim ler, quase em desuso por cá, parece ter sido agora
importada por alguns leitores. Refiro-me a leitores com origem no leste
europeu. Quando vejo alguém segurando um livro desta forma, vou dar uma olhada,
discreta claro. E é garantido a 99% que está escrito em cirílico. Tal como é
garantido, a 100%, que o ou a leitora, estão profundamente embrenhados na
leitura. Tão a fundo que, por vezes, nem reparam que chegaram à sua estação de
destino.
Acredito
firmemente que o acto de ler na língua e caracteres aprendidos em tenra idade
seja uma forma de ultrapassar as agruras de quem está longe das origens e dos
seus, por vezes em péssimas condições materiais.
Tal
como acredito que em chegando novos exemplares por cá, quer enviados pelo
correio quer por mão amiga, sejam avidamente disputados por quem deles tenha
conhecimento.
By me
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