Curioso
é pensar no termo usado para o carregar no botão que provoca uma fotografia: “Disparar”.
Em inglês, a mesma coisa: “Shoot”.
A
analogia que se pode fazer com o outro “disparar”, o do gatilho de uma arma, é
terrível.
Em
ambos os casos, o fotógrafo interpreta o seu gesto como o de caça, o “abater” o
assunto fotografado. E a consequência é, em regra, mais um troféu, pendurado
numa parede, exibido numa página web ou religiosamente guardado num álbum mais
clássico. Eventualmente, divulgado nos media.
Mas
o assunto foi alvejado, abatido e guardado.
E
a câmara usa-se como quem usava uma arma à cintura ou atravessada nas costas:
pronta a usar sobre os alvos que interessassem guardar ou aniquilar.
Curioso
também é a falta de respeito francamente manifesta sobre o assunto alvejado.
Fotografa-se
aleatoriamente, sobre uma cara bonita ou um corpo em necessidade, sem mesmo se
saber se o seu dono ou dona o autoriza. À surrelfa, como que emboscado por
entre as folhas de uma mata. E quanto mais discreto for o disparar, quando
menos o alvo disso se aperceber e não agir em conformidade, melhor. São os troféus
espontâneos, a chamada “street photography”, como hoje está na moda dizer.
A
vontade das pessoas assim abatidas pouco conta: “Que diabo, sou um fotógrafo! Não
vê a câmara, que cara e sofisticada que é? É meu direito usa-la sobre tudo e
todos que estejam ao seu alcance!”
O
que não é sofisticado, nada sofisticado, é o procedimento de quem dispara.
Ser
fotógrafo implica uma boa dose de voyerismo. Mas não respeitar o que se
fotografa, fazendo-o e usando-o à revelia do conhecimento e vontade do
fotografado, é a coisa mais rasca e baixa que se pode fazer na nobre actividade
de fotografar. É como quem, com binóculos, espreita o tomar banho e vestir da
vizinha ou vizinho, pelas janelas que estão abertas.
Para
esses tais de “fotógrafos”, o meu olhar de desprezo! E o meu olhar de tristeza
para uma sociedade que, vítima de si mesma, cada vez menos respeita o individuo
e a privacidade!
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário