quinta-feira, 25 de julho de 2013

Em trânsito



A propósito do trágico acidente ocorrido ontem na Galiza, comentei eu com um colega que eu nunca seria uma vítima dele, mesmo que estivesse a viajar em Espanha. E expliquei.
Do que já me foi dado ver nos caminhos de ferro espanhóis, o acesso aos comboios de alta velocidade, chamados de AVE ali, fazem-se como se de aviões se tratasse: controlo de identidades e inspecção de bagagens por raio X.
Ora acontece que me recuso em andar de avião por isso mesmo. Porque, por “motivos de segurança”, todos os passageiros são considerados suspeitos até prova em contrário. Ou, se preferirem, tenho que demonstrar que eu sou eu e não uma identidade falsa e que não transporto nada que seja proibido e que possa por em causa a segurança do transporte.
Ora acontece que na minha “cartilha”, na minha forma de me relacionar com o mundo e os restantes seres humanos, actuo exactamente ao contrário: todos são inocentes até que tenha motivos para pensar o contrário. E, muito interessante, também os princípios basilares da justiça funcionam assim: é a acusação formada que tem que demonstrar o delito, tendo o acusado apenas que demonstrar que não é verdade.
E se eu trato o mundo com equidade e justiça, exijo o mesmo para mim, não aceitando ser tratado como criminoso nem que sobre mim caiam suspeitas de tal apenas porque existo.
Donde: não viajo de avião. Nem viajo nos comboios AVE espanhóis. Em havendo outras alternativas, faço a viagem. Em as não havendo, escolho outros destinos.

É por isso que desejo ardentemente que a empresa onde trabalho não me destaque para locais em que tenha que usar avião. Será uma discussão feroz e de surdos, certamente, mas não cederei nem um milímetro.

A minha integridade moral não se vende por dinheiro nem por ir a locais eventualmente exóticos. Tal como a minha liberdade não se troca por medidas de segurança cegas e castrantes.

By me 

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