domingo, 7 de julho de 2013

Na primeira pessoa



Foi há vinte anos. Um amigo convidou-me para integrar o corpo docente de uma escola profissional a inaugurar, ficando eu encarregue de parte das áreas de fotografia e captação de imagem vídeo do respectivo curso.
O convite foi uma surpresa, já que a minha experiência lectiva era nula. Mas os argumentos que ele me apresentou, junto com um outro amigo e experiente nestas coisas, bem como a direcção da escola, convenceram-me.
Ainda hoje lhes agradeço a confiança e o desafio!

Acontece que, passados uns meses e por motivos pessoais, esse amigo e que coordenava o curso, teve que demitir-se e partir com outro rumo.
A escola contactou-me para ocupar o seu lugar mas, muito naturalmente, recusei. A minha experiência e saber enquanto professor era menor que qualquer outro que ali trabalhava e não poderia ser eu, o novato, a decidir sobre eles.
Acabaram por contratar um outro profissional dos audiovisuais, ligado à realização de cinema.
E foi aqui que a coisa começou a correr mal!
Este novo coordenador começou a inflectir a orientação do curso, e seus conteúdos, para a área do cinema, ficando o vídeo como parente menos que pobre. Equipamentos, formadores, matérias, tudo foi sendo ajustado ao cinema.
Protestei!
Não eram aqueles conteúdos e futuro profissional que havíamos prometido aos alunos. O mercado do vídeo e televisão estava emergente e promissor, enquanto que o do cinema… bem, este não mudou quase nada nestes vinte anos. E os alunos haviam-se inscrito para vídeo e uma profissão nele, e não no cinema. Estávamos, de um modo ou de outro, a aldrabar os alunos.
Protestei, barafustei, reuni-me, discuti, mas tudo em vão. Tal como foi em vão que ameacei com o demitir-me. Que não colaboraria eu num embuste àqueles jovens que ali estavam e acreditavam nas promessas de futuro que lhes fazíamos. Sempre em vão.
Pelo que cumpri o que ameacei e despedi-me. E, comigo, o meu compincha que, comigo, havia formado o grupo inicial.
Anos depois, infelizmente, o Ministério da Educação acabou por mandar encerrar esta escola. E parte dos alunos que nessa altura a frequentavam vieram fazer parte da escola onde eu leccionava à data.

Dar um murro na mesa, final e irrevogável, não pode ser uma mera ameaça.
Mas eu não sou nem ministro nem tenho ambições de poder político.



By me

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