Há
coisas que nos fazem parar muito para além daquilo que suponhamos.
Quando
saí do trabalho já era noite fechada. Ao cruzar a porta do posto de segurança
que temos que atravessar, estaquei. Lá em baixo, sobre o rio, a Lua tinha
subido no horizonte fazia pouco.
Já
não é lua-cheia, que um dos lados já estava meio abaulado. Mas estava grande,
bem grande, amarelada por via da nossa própria atmosfera, mas bonita de fazer
parar o mais pintado. Com a luminosidade e o tom certo para fazer qualquer imagem
que dela se fizesse um espanto. Mas, e principalmente, para encher a alma de
bonito!
Atrás
de mim vieram mais dois que tinham o mesmo objectivo que eu: regressar a casa
depois de uma jornada de trabalho. E eu ali, na soleira da porta, a
impedir-lhes a passagem…
“Então!
Ficas cá a dormir hoje, é?” atirou-me um deles, provocador.
“Se
aquela ficar assim toda a noite, lá isso fico.” Respondi apontado lá p’ro
fundo.
“Ah!”
disse o outro. E ficaram a olhar uns bons três ou quatro segundos. E seguiram.
Eu
fiquei até que o seu movimento, ainda que lento, a fez começar a ficar tapada
por umas ramagens de uma árvore. E a perder o seu tom amarelo.
Foi,
talvez, a necessidade de me desviar um nico para a continuar a ver que me
quebrou a imobilidade e me fez fazer o caminho inverso, da Lua à Terra. E atravessar
a avenida, que já tinha perdido um autocarro.
Mas
o que tinha ganho com aqueles minutos valiam muito mais que um transporte,
ainda que escasso na noite, p’ra casa.
Se
fiz o registo? Não fiz!
À
uma porque não tinha comigo senão a de bolso, que por muito boa que seja, não
serve para isto.
Depois,
porque há coisas na vida que é bem melhor saborear que fotografar. A vida propriamente
dita, por exemplo!
By me
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