quinta-feira, 25 de julho de 2013

O luar



Há coisas que nos fazem parar muito para além daquilo que suponhamos.
Quando saí do trabalho já era noite fechada. Ao cruzar a porta do posto de segurança que temos que atravessar, estaquei. Lá em baixo, sobre o rio, a Lua tinha subido no horizonte fazia pouco.
Já não é lua-cheia, que um dos lados já estava meio abaulado. Mas estava grande, bem grande, amarelada por via da nossa própria atmosfera, mas bonita de fazer parar o mais pintado. Com a luminosidade e o tom certo para fazer qualquer imagem que dela se fizesse um espanto. Mas, e principalmente, para encher a alma de bonito!
Atrás de mim vieram mais dois que tinham o mesmo objectivo que eu: regressar a casa depois de uma jornada de trabalho. E eu ali, na soleira da porta, a impedir-lhes a passagem…
“Então! Ficas cá a dormir hoje, é?” atirou-me um deles, provocador.
“Se aquela ficar assim toda a noite, lá isso fico.” Respondi apontado lá p’ro fundo.
“Ah!” disse o outro. E ficaram a olhar uns bons três ou quatro segundos. E seguiram.
Eu fiquei até que o seu movimento, ainda que lento, a fez começar a ficar tapada por umas ramagens de uma árvore. E a perder o seu tom amarelo.
Foi, talvez, a necessidade de me desviar um nico para a continuar a ver que me quebrou a imobilidade e me fez fazer o caminho inverso, da Lua à Terra. E atravessar a avenida, que já tinha perdido um autocarro.
Mas o que tinha ganho com aqueles minutos valiam muito mais que um transporte, ainda que escasso na noite, p’ra casa.

Se fiz o registo? Não fiz!
À uma porque não tinha comigo senão a de bolso, que por muito boa que seja, não serve para isto.

Depois, porque há coisas na vida que é bem melhor saborear que fotografar. A vida propriamente dita, por exemplo!

By me

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