Chego
a casa já passava da meia-noite.
Dispo-me,
acendo um cigarro e prepara-me para um nico no pc antes de ir dormir. O toque
de alvorada será cedo.
Já
sentado, sinto um ratito a fazer das suas no estômago. Mal não tem, que uma ou
duas bolachas não me atrapalharão o sono. E dirijo-me à cozinha.
À
porta, fico uns três ou quatro segundos, atónito, ainda antes mesmo de acender
a luz. Que, se a acender, aquilo desaparece.
A
luz que me entra p’la janela, cujos vidros até precisam ser lavados, é estranha,
não bate certo. A altura do meu apartamento não permite que a luz vinda dos
candeeiros da rua iluminem o chão, cá dentro. Mas este está, agora, com luz a
incidir-lhe. E a fazer sombras, nunca antes constatadas. Que raio!
Precisei
de pensar um pouco e lembrar-me que duas horas antes, enquanto esperava p’lo
autocarro e, pouco depois, enquanto esperava p’lo comboio, havia visto como a
Lua brincava de tapa-destapa com as nuvens. E havia pensado em como seria bem
difícil registar aquela amplitude de contrastes, desde os detalhes na Lua até à
suave iluminação das nuvens baixas que cobriam parcialmente a cidade.
A
noite e a sua luz, natural ou artificial, não é marcada principalmente pela
escuridão, como a esmagadora maioria das pessoas pensam. O que caracteriza a
noite do Homem, na sua urbe ou mesmo campesina, são os contrastes entre o que é
visível e o que não o é. E as sombras estranhas que vemos. E os medos atávicos
que com elas sobrevêm da antiguidade: o lobo, o papão, o homem do saco…
Mas
o que é belo na noite é exactamente isso: aquilo que imaginamos p’ra além do
que vemos, os que as sombras nos sugerem, o que adivinhamos que possa estar
quando pomos o pé sem olhar.
E
não será à toa que os namorados e amantes preferem a noite ao dia.
A
fotografia não está famosa? Pois não!
Mas
se conseguisse fotografar tudo o que e como me vai na alma, seria um génio, que
não sou.
By me
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