terça-feira, 23 de julho de 2013

Na noite



Chego a casa já passava da meia-noite.
Dispo-me, acendo um cigarro e prepara-me para um nico no pc antes de ir dormir. O toque de alvorada será cedo.
Já sentado, sinto um ratito a fazer das suas no estômago. Mal não tem, que uma ou duas bolachas não me atrapalharão o sono. E dirijo-me à cozinha.
À porta, fico uns três ou quatro segundos, atónito, ainda antes mesmo de acender a luz. Que, se a acender, aquilo desaparece.
A luz que me entra p’la janela, cujos vidros até precisam ser lavados, é estranha, não bate certo. A altura do meu apartamento não permite que a luz vinda dos candeeiros da rua iluminem o chão, cá dentro. Mas este está, agora, com luz a incidir-lhe. E a fazer sombras, nunca antes constatadas. Que raio!
Precisei de pensar um pouco e lembrar-me que duas horas antes, enquanto esperava p’lo autocarro e, pouco depois, enquanto esperava p’lo comboio, havia visto como a Lua brincava de tapa-destapa com as nuvens. E havia pensado em como seria bem difícil registar aquela amplitude de contrastes, desde os detalhes na Lua até à suave iluminação das nuvens baixas que cobriam parcialmente a cidade.

A noite e a sua luz, natural ou artificial, não é marcada principalmente pela escuridão, como a esmagadora maioria das pessoas pensam. O que caracteriza a noite do Homem, na sua urbe ou mesmo campesina, são os contrastes entre o que é visível e o que não o é. E as sombras estranhas que vemos. E os medos atávicos que com elas sobrevêm da antiguidade: o lobo, o papão, o homem do saco…
Mas o que é belo na noite é exactamente isso: aquilo que imaginamos p’ra além do que vemos, os que as sombras nos sugerem, o que adivinhamos que possa estar quando pomos o pé sem olhar.
E não será à toa que os namorados e amantes preferem a noite ao dia.

A fotografia não está famosa? Pois não!

Mas se conseguisse fotografar tudo o que e como me vai na alma, seria um génio, que não sou.

By me 

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