A
conversa foi com um colega, daqueles com quem se pode conversar.
Vinha
ele todo entusiasmado falar-me do que se antevê para breve: uma câmara com 70
megamixels. “O que isso irá permitir fazer, vê bem! Ampliar a mosca lá do outro
lado da rua e não ter grão!”
Pensei
em falar-lhe de como não adianta ter superfícies fotossensíveis tão perfeitas se
se estiver a usar fundos de garrafa como objectiva. Pensei em explicar-lhe o
que é o círculo de confusão admissível e escalas de reprodução Mas daria
bastante trabalho e haveria que recorrer a fórmulas que não sei de cor. Afinal,
os livros servem para guardar o conhecimento e tê-lo à disposição.
Mas
tentei fazer-lhe ver que a evolução da tecnologia só é útil se com ela criarmos
coisas. Que, para continuar a fazer o mesmo ou sem qualidade, não adiantam os
megapixels.
E
expliquei-lhe o que são basculamentos e descentramentos. De como com estes se
consegue controlar perspectiva de modos quase impossíveis com processadores de
imagem sem algum tipo de perca de qualidade. E de como com aqueles se fazem
alterações de profundidade de campo impensáveis com qualquer objectiva convencional
ou computador.
A
explicação decorreu numa pausa de trabalho, que era para ser de um cigarro e
acabou por ser de três.
Perguntou-me
ele desde quando se fazia disto e disse-lhe que desde sempre ou quase que
existem câmaras que não rígidas como as que conhecemos hoje. E que o meu sonho
fotográfico seria ter um banco óptico com costas digitais. Bem fora dos meus
orçamentos, excepto de euromilhões e afins.
Sugeri-lhe
que fosse ver como eram as boas fotografias publicitárias, ou de interiores, ou
de arquitectura, de há uns dez anos para trás: controlo de geometria, nitidez e
profundidade de campo, ajustes de gama e exposição, saturações, tudo isso feito
sem digitais mas com dedos, olhos e cérebros. Que o digital, mesmo sendo muito
bom e simplificado para o utilizador, não dispensa esses três. Nem a
criatividade.
Terminámos
com uma frase batida e em coro: “Se juntarmos aquilo que eu não sei com aquilo
que tu não sabes, daria uma enorme biblioteca!”
E
termino eu agora desejando que as tecnologias evoluam para que consiga fazer o
que não sou capaz hoje com as actuais. Mas não me tirem algumas das técnicas
antigas, que ainda terá que correr muita água por sob a ponte antes que sejam
completamente inúteis. O truque, digo eu, é conseguir juntar o melhor de dois
mundos: o que foi e o que virá!
By me
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