quarta-feira, 31 de julho de 2013

De conversa



A conversa foi com um colega, daqueles com quem se pode conversar.
Vinha ele todo entusiasmado falar-me do que se antevê para breve: uma câmara com 70 megamixels. “O que isso irá permitir fazer, vê bem! Ampliar a mosca lá do outro lado da rua e não ter grão!”
Pensei em falar-lhe de como não adianta ter superfícies fotossensíveis tão perfeitas se se estiver a usar fundos de garrafa como objectiva. Pensei em explicar-lhe o que é o círculo de confusão admissível e escalas de reprodução Mas daria bastante trabalho e haveria que recorrer a fórmulas que não sei de cor. Afinal, os livros servem para guardar o conhecimento e tê-lo à disposição.
Mas tentei fazer-lhe ver que a evolução da tecnologia só é útil se com ela criarmos coisas. Que, para continuar a fazer o mesmo ou sem qualidade, não adiantam os megapixels.
E expliquei-lhe o que são basculamentos e descentramentos. De como com estes se consegue controlar perspectiva de modos quase impossíveis com processadores de imagem sem algum tipo de perca de qualidade. E de como com aqueles se fazem alterações de profundidade de campo impensáveis com qualquer objectiva convencional ou computador.
A explicação decorreu numa pausa de trabalho, que era para ser de um cigarro e acabou por ser de três.
Perguntou-me ele desde quando se fazia disto e disse-lhe que desde sempre ou quase que existem câmaras que não rígidas como as que conhecemos hoje. E que o meu sonho fotográfico seria ter um banco óptico com costas digitais. Bem fora dos meus orçamentos, excepto de euromilhões e afins.
Sugeri-lhe que fosse ver como eram as boas fotografias publicitárias, ou de interiores, ou de arquitectura, de há uns dez anos para trás: controlo de geometria, nitidez e profundidade de campo, ajustes de gama e exposição, saturações, tudo isso feito sem digitais mas com dedos, olhos e cérebros. Que o digital, mesmo sendo muito bom e simplificado para o utilizador, não dispensa esses três. Nem a criatividade.
Terminámos com uma frase batida e em coro: “Se juntarmos aquilo que eu não sei com aquilo que tu não sabes, daria uma enorme biblioteca!”

E termino eu agora desejando que as tecnologias evoluam para que consiga fazer o que não sou capaz hoje com as actuais. Mas não me tirem algumas das técnicas antigas, que ainda terá que correr muita água por sob a ponte antes que sejam completamente inúteis. O truque, digo eu, é conseguir juntar o melhor de dois mundos: o que foi e o que virá!


By me

Sem comentários: