quarta-feira, 3 de julho de 2013

Tempos de excepção



São tempos diferentes, estes que vivemos agora. Não apenas difíceis como levando a comportamentos incomuns.
Jantei em Lisboa. E, por uma vez, naquele restaurante onde sou tratado como que da casa, sentei-me junto ao televisor.
Costuma estar sintonizado num canal de desporto, sem som, não incomodando ninguém que o não queira. Mas os tempos são outros e, mesmo que ali a rede de net seja nula, foi onde acabei por ficar.
Mas fui bem mais longe, nesta minha quebra de rotinas, regras e gostos: pedi à dona do local que sintonizasse na RTP e que subisse um nico o som. Quanto bastasse para que, àquela curta distância, pudesse eu ouvir o discurso de PPC. Não apenas acedeu como me pediu que, à saída, lhe contasse o que diria ele, que ela andava, naturalmente, às voltas com as mesas.
Foi um triste jantar: a ver TV, a ouvir aquela figura e, ainda por cima, tendo dito o que disse.
Mas os tempos não são normais e as excepções acontecem.

Dali rumei para o centro da cidade, para tomar o comboio que me levaria a casa.
Ao entrar este no Marquês, vejo a maralha reunida na placa central e a chegada das carrinhas policiais, com o respectivo desembarque e tomadas de posição.
“Olha!”, pensei, “Afinal, e apesar do discurso, sempre haverá aqui, senão festejo, pelo menos protesto.”
E dirigi-me ao motorista:
“Eu sei que aqui não é paragem. Mas estando o sinal fechado, será que me poderia deixar sair aqui?”
“Olhe para ele ali.”, acenando com a cabeça para um dos agentes da PSP. “E porque é que não ficou na paragem ali atrás?”
“Bem! Ali a trás, na paragem, não me apercebi que estava aqui o pessoal a protestar, senão tinha saído. Assim, vou ter que sair na outra e subir isto à pata.”
“Ah, é para se juntar a eles! Então espere lá, que no próximo semáforo já sai. E faça lá o barulho por mim, que com isto nas mãos não posso ir.”
E assim foi.
Como digo, os tempos não estão normais!

Já lá no meio, e depois de feito parte do meu papel de cidadão a protestar, de ter cirandado e aproveitado os últimos vestígios de sol, eis que vejo duas senhoras.
Havia-as conhecido umas horas antes, numa estação de comboios. De uns quarenta anos, Finlandesas, tinha-as ajudado a orientarem-se na cidade, porque em turismo. O Inglês foi a nossa ponte, que a mocinha a quem tinham pedido ajuda não se desenrascava.
E, depois de lhes dar as indicações de que careciam, ficámos um nico à conversa, ocasião que aproveitei para lhes falar dos tempos conturbados que por cá se vivem e que, se quisessem acompanhar a “acção” lusa, caso o discurso do primeiro-ministro fosse como se esperava, então o local seria o Marquês de Pombal.
Pois não é que foram?
Os tempos são de excepção e necessitam de atitudes menos normais. Sejam quais forem as línguas empregues ou as regras que se infrinjam.


Que, e como me disse um Mestre, há muitos, muitos anos, “As regras existem para se quebrarem”!

By me

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