“Sabes: aprendi de
pequenina a não ter partido!
Quando, em Angola,
nos tempos da confusão, tínhamos que nos deslocar pela estrada de um lado para
o outro, tínhamos sempre dois cartões. Um do MPLA, outro da UNITA. E quando
éramos mandados parar por um posto de controlo, e havia-os muitos, tentávamos
ver quais eram as tropas, escondíamos um cartão e mostrávamos o outro.
Quando de lá
conseguimos fugir, também foi assim.
E já cá,
tranquilos, a minha mãe sempre me recomendou que não me inscrevesse em nenhum,
por uma questão de segurança.
Não tenho cartões
nem tenho partidos!”
Este discurso está
aqui reproduzido com a fidelidade possível da minha memória e um intervalo de
talvez duas horas entre o ouvir e o escrever. Saiu da boca de uma senhora, com
a firmeza e a tristeza que se lhe adivinha.
Por mim, que nunca
estive em Angola, que nunca vivi uma guerra, civil ou outra, que nunca tive que
argumentar com cartões para garantir a minha integridade física, desde sempre
que recusei ter um cartão partidário, fosse qual fosse a sua cor. A fidelização
que tal obriga é bem maior que a exigida pelas empresas de telemóveis. E nunca
me apeteceu, bem pelo contrário, fazer depender as minhas opiniões ou
comportamentos das opções ou ditames de dirigentes. Partidários, religiosos ou
similares.
O único cartão que
possuo é aquele cujo verso aqui se vê. Com muito orgulho.
É um cartão que
atesta da minha cidadania, da minha intervenção útil nas actividades do país,
bem para além de ideologias ou opções partidárias.
Usá-lo significa
servir o público, seja qual for a sua opinião, por igual, mesmo que em total
discordância com os meus próprios ideais. Sejam quais forem as batalhas
eleitorais que se travem.
Espero que o
bom-senso entre os decisores impere e que a vontade dos cidadãos prevaleça para
que possa, com o orgulho de sempre, continuar a usar e servir este cartão!
By me
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