domingo, 2 de setembro de 2012

O cartão




“Sabes: aprendi de pequenina a não ter partido!
Quando, em Angola, nos tempos da confusão, tínhamos que nos deslocar pela estrada de um lado para o outro, tínhamos sempre dois cartões. Um do MPLA, outro da UNITA. E quando éramos mandados parar por um posto de controlo, e havia-os muitos, tentávamos ver quais eram as tropas, escondíamos um cartão e mostrávamos o outro.
Quando de lá conseguimos fugir, também foi assim.
E já cá, tranquilos, a minha mãe sempre me recomendou que não me inscrevesse em nenhum, por uma questão de segurança.
Não tenho cartões nem tenho partidos!”

Este discurso está aqui reproduzido com a fidelidade possível da minha memória e um intervalo de talvez duas horas entre o ouvir e o escrever. Saiu da boca de uma senhora, com a firmeza e a tristeza que se lhe adivinha.

Por mim, que nunca estive em Angola, que nunca vivi uma guerra, civil ou outra, que nunca tive que argumentar com cartões para garantir a minha integridade física, desde sempre que recusei ter um cartão partidário, fosse qual fosse a sua cor. A fidelização que tal obriga é bem maior que a exigida pelas empresas de telemóveis. E nunca me apeteceu, bem pelo contrário, fazer depender as minhas opiniões ou comportamentos das opções ou ditames de dirigentes. Partidários, religiosos ou similares.
O único cartão que possuo é aquele cujo verso aqui se vê. Com muito orgulho.
É um cartão que atesta da minha cidadania, da minha intervenção útil nas actividades do país, bem para além de ideologias ou opções partidárias.
Usá-lo significa servir o público, seja qual for a sua opinião, por igual, mesmo que em total discordância com os meus próprios ideais. Sejam quais forem as batalhas eleitorais que se travem.
Espero que o bom-senso entre os decisores impere e que a vontade dos cidadãos prevaleça para que possa, com o orgulho de sempre, continuar a usar e servir este cartão!

By me

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