Enquanto observava
a lua a espreitar-me por entre as chaminés, oiço atrás de mim:
“Oh chefe! Dá-me
um cigarro?”
A pergunta veio de
um rapazelho, de uns vinte e tal anos, que costuma passar as tardes aqui na
rua, à conversa com outros semelhantes, sentados nos degraus de um dos cafés
que aqui há. E, vez sim vez não que me vê, vem-me pedir um cigarro. Sempre
neste tom.
Desliguei a
câmara, travei-a e enfrentei-o:
“Não dou!”,
respondi. “E para que percebas o porquê de to negar por sistema, eu explico.”
Ficou a olhar p’ra
mim, sem perceber.
“Os cigarros que
tenho são fruto do meu trabalho. O trabalho de onde recebo para comprar tabaco
e tubos, o trabalho que tenho em os encher.
Pela frequência
com que te vejo aqui na rua, percebo que não tens trabalho. Lamento-o.
Lamento-o mesmo e, pudesse eu, e ajudava-te!
Mas também vejo
que nem te dás ao trabalho de pedir “por favor”. Suponho que seja pedir muito,
esse trabalho.
Tal como nem te
dás ao trabalho de te desviares para que os outros passem, quando ocupas, com
os amigos, os degraus de entrada do café. Os outros que passem se puderem, ou que
peçam passagem.
Ora se nem te dás ao
trabalho de, ao menos, te preocupares com os outros ou de bem os tratar, porque
é que hei-de preocupar-me em partilhar o meu trabalho e tabaco contigo?”
Segui caminho e
ele ficou ali, não sei se a olhar para mim que não me virei para trás.
Não creio que
tenha ganho um amigo, mas também não sou conhecido por ter bom feitio!
By me
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