sábado, 29 de setembro de 2012

P'la janela do autocarro




É mais ou menos notório que tenho um fraquinho por grafittis. E não me refiro apenas a algumas verdadeiras obras de arte que podemos encontrar aqui ou ali. Essas serão especiais.
Refiro-me, antes sim, àquelas outras sem ambições artísticas mas que exprimem os sentimentos de quem as pintou. Uma assinatura com definição de espaço grupal, uma declaração de raiva ou amor, um protesto ou afirmação política.
Sabemos também que a vida de um grafitti depende do local onde foi feito: se muito exposto ou nem tanto, dos donos do edifício, da capacidade de influência dos vizinhos…
Esta tem já cinco anos. Está na parede de uma instalação fabril abandonada na zona oriental de Lisboa, numa avenida que é, basicamente, um eixo rodoviário. Poucos residentes.
Singela, já objecto de parcial sobreposição, é, como muitas outras, um sinal de história do país. Que os grafittis também são isso: sinais exteriores de história.
O que me custa ver neste grafitti é a sua idade e mensagem. Passados que são cinco anos continuamos todos, os portugueses, a necessitar de estar em confronto com as autoridades governamentais. E, não nos esqueçamos, fomos nós Portugueses que as escolhemos. Mais ainda, se procurarmos pela cidade, p’la certa que iremos encontrar afirmações ou convocatórias semelhantes ainda mais antigas. Sempre apelando ao confronto, ao protesto popular, à greve ou à manifestação.
Mesmo deixando de parte as eventuais cargas politico-partidárias que possam conter (e contêm!) são elas a demonstração pública que não nos sabemos governar, que vamos fazendo escolhas das quais nos arrependemos, que o confronto social tem sido, com maior ou menor intensidade, uma constante nos últimos trinta e tal anos.
Talvez que um dia, fruto eventual da situação que vivemos agora, possamos passar um decénio sem necessitar de apelar à revolta e protesto, mesmo que pacífico. Greves, manifestações, desfiles. Com mais ou menos humor.

Esse dia não é, certamente, hoje.
Que hoje, e mais uma vez, estaremos na rua a demonstrar o nosso descontentamento e vontade e, pelo número, a afirmar que a democracia não se faz apenas pelo voto.
E será bom que quem ocupa lugares fruto de eleições, o saiba!

By me

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