É mais ou menos
notório que tenho um fraquinho por grafittis. E não me refiro apenas a algumas
verdadeiras obras de arte que podemos encontrar aqui ou ali. Essas serão
especiais.
Refiro-me, antes
sim, àquelas outras sem ambições artísticas mas que exprimem os sentimentos de
quem as pintou. Uma assinatura com definição de espaço grupal, uma declaração
de raiva ou amor, um protesto ou afirmação política.
Sabemos também que
a vida de um grafitti depende do local onde foi feito: se muito exposto ou nem
tanto, dos donos do edifício, da capacidade de influência dos vizinhos…
Esta tem já cinco
anos. Está na parede de uma instalação fabril abandonada na zona oriental de
Lisboa, numa avenida que é, basicamente, um eixo rodoviário. Poucos residentes.
Singela, já
objecto de parcial sobreposição, é, como muitas outras, um sinal de história do
país. Que os grafittis também são isso: sinais exteriores de história.
O que me custa ver
neste grafitti é a sua idade e mensagem. Passados que são cinco anos
continuamos todos, os portugueses, a necessitar de estar em confronto com as
autoridades governamentais. E, não nos esqueçamos, fomos nós Portugueses que as
escolhemos. Mais ainda, se procurarmos pela cidade, p’la certa que iremos
encontrar afirmações ou convocatórias semelhantes ainda mais antigas. Sempre
apelando ao confronto, ao protesto popular, à greve ou à manifestação.
Mesmo deixando de
parte as eventuais cargas politico-partidárias que possam conter (e contêm!) são
elas a demonstração pública que não nos sabemos governar, que vamos fazendo
escolhas das quais nos arrependemos, que o confronto social tem sido, com maior
ou menor intensidade, uma constante nos últimos trinta e tal anos.
Talvez que um dia,
fruto eventual da situação que vivemos agora, possamos passar um decénio sem
necessitar de apelar à revolta e protesto, mesmo que pacífico. Greves,
manifestações, desfiles. Com mais ou menos humor.
Esse dia não é,
certamente, hoje.
Que hoje, e mais
uma vez, estaremos na rua a demonstrar o nosso descontentamento e vontade e,
pelo número, a afirmar que a democracia não se faz apenas pelo voto.
E será bom que
quem ocupa lugares fruto de eleições, o saiba!
By me
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