É assim que está a
fechadura da entrada do meu prédio: o cabo eléctrico partido e sem sítio onde
as linguetas prenderem.
Ficou assim há uns
dias, fruto da acção de um qualquer vizinho desagradado com a dificuldade de
abrir a porta. Pouco urbano, convenhamos.
Hoje, no regresso
do café matinal, cruzei-me com uma vizinha. Ali mesmo, à porta. Desabafou ela:
“A porta está
bonita, está!”
Encolhi os ombros
e respondi com um “pois” que queria dizer tudo e nada ao mesmo tempo.
“Está uma
desgraça, está!” continuou ela. “Ainda ontem vi aqui entrar tantos pretos… E
nem moram cá!”
Hesitei entre um “pois”
repetido, um par de estalos factual e um enxovalhanço. Optei pelo terceiro:
“Pois se calhar
viu. Deveria ser a minha filha e os amigos, quando vieram jantar cá a casa.”
Ficou primeiro
vermelha, depois roxa. E seguiu cabeça baixa para o carro da filha, que a
esperava ali em frente.
Não sei se saberia
que não tenho filhos, mas nada mais me dirá de racista, p’la certa.
By me
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