segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A barrela




Quem dantes se passeasse pelos chamados “bairros populares” de Lisboa, à segunda-feira, veria a roupa a secar e corar ao sol.
Não se trataria de um fetiche por esse dia, mas antes uma questão de organização social.
A mulher trabalha em casa, cuidando dela, da cozinha e dos filhos, enquanto o marido passaria o dia fora, ganhando o sustento da casa.
O domingo, dia de descanso, de igreja e de família, era reservado para actividades colectivas, deixando os afazeres de parte, principalmente os mais desagradáveis.
Segunda-feira, o marido fora e os filhos na escola, se fosse esse o caso, era dia de barrela, solitária em casa ou colectiva no lavadoiro público.
Com o passar dos tempos e a inserção da mulher no mercado de trabalho fora de casa, por emancipação ou mera necessidade material, sobrou-lhe o domingo para tais tarefas ingratas. É nesse dia que é costume, hoje, ver-se a roupa a secar na janela.
Ou começa a deixar de o ser, nos bairros suburbanos e dormitórios, satélites que são da grande cidade. O desemprego e o regresso a um certo conservadorismo, nativo de terras lusas ou importado de além-mar, fez regressar a roupa às janelas no primeiro dia útil da semana. Roupa de cama, roupa de vestir, roupa de banho.
Pergunto-me até quando ficará este regresso às origens, não desejado mas antes imposto pelas dificuldades do presente.  

By me

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