Quem dantes se
passeasse pelos chamados “bairros populares” de Lisboa, à segunda-feira, veria
a roupa a secar e corar ao sol.
Não se trataria de
um fetiche por esse dia, mas antes uma questão de organização social.
A mulher trabalha
em casa, cuidando dela, da cozinha e dos filhos, enquanto o marido passaria o
dia fora, ganhando o sustento da casa.
O domingo, dia de
descanso, de igreja e de família, era reservado para actividades colectivas,
deixando os afazeres de parte, principalmente os mais desagradáveis.
Segunda-feira, o
marido fora e os filhos na escola, se fosse esse o caso, era dia de barrela,
solitária em casa ou colectiva no lavadoiro público.
Com o passar dos
tempos e a inserção da mulher no mercado de trabalho fora de casa, por
emancipação ou mera necessidade material, sobrou-lhe o domingo para tais
tarefas ingratas. É nesse dia que é costume, hoje, ver-se a roupa a secar na
janela.
Ou começa a deixar
de o ser, nos bairros suburbanos e dormitórios, satélites que são da grande
cidade. O desemprego e o regresso a um certo conservadorismo, nativo de terras
lusas ou importado de além-mar, fez regressar a roupa às janelas no primeiro
dia útil da semana. Roupa de cama, roupa de vestir, roupa de banho.
Pergunto-me até
quando ficará este regresso às origens, não desejado mas antes imposto pelas
dificuldades do presente.
By me
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