sábado, 22 de setembro de 2012

Há uma linha que separa, uma tesoira que corta





Para além de insultos, proverbiais na língua portuguesa, de cartazes e frases humorísticas, também tradicionais por cá, notas de despedimento político e sinceros votos de “boa-viagem” ou semelhante, o que mais ouvi nestas últimas manifestações foi o desejo verbalizado de um novo “25 de Abril”.

Caramba! Raios! Não!

Quem assim se pronuncia ou tem a memória curta e já esqueceu o que havia antes de ’74 ou nunca o viveu, e ainda bem.
Esquecem-se, ou não sabem, que antes da revolução não o poderiam afirmar em público, mesmo que no café da rua! Muito menos numa manifestação!
Esquecem-se, ou não sabem, que antes da revolução havia que saber ler nas entrelinhas dos jornais para saber, com rigor, o que se passava. Ou ouvir as rádios clandestinas, nacionais ou não.
Esquecem-se, ou não sabem, que antes de Abril corria uma guerra e que quem não tivesse lá em África um familiar, iria ter em breve. Sem saber por quanto tempo.
Esquecem-se, ou não sabem, que o regime do Estado Novo tinha eleições-fantoche, com os resultados sabidos de antemão. E ai de quem se atrevesse a contestá-los.

Entendo os gritos por um novo 25 de Abril. O desejo real e honesto de mudança.
Mas, por favor: façamos um 17 de Agosto, um 28 de Outubro ou qualquer outra data que nos convenha.
Mas saibam que nessa data o farão em liberdade, sem polícia política, sem censura e sem guerra. Sem Tarrafal. Sem batidas na noite na porta. Sem ditadura.
Com um Parlamento eleito livremente pelos portugueses, com um Presidente eleito livremente pelos Portugueses. Com Autarquias eleitas livremente pelos Portugueses.
Aquilo que os Portugueses querem ao clamar por um novo 25 de Abril é, mesmo que o não saibam, que eles mesmos têm que tomar as rédeas do seu futuro, fazendo as escolhas certas em função do que realmente querem para ele e sem se deixarem levar por conservadorismos de bons discursos, promessas nunca cumpridas e gravatas bem atadas.
Aquilo que hoje contestamos – nas redes sociais, nos artigos de opinião e, principalmente, nas ruas – são as decisões erradas tomadas nos sucessivos actos eleitorais dos últimos anos. Vários anos! Por todos nós, os que votámos e os que se abstiveram!
Porque, e nunca os esqueçamos: desde a revolução que o cargo de presidente da República e os lugares do Parlamento foram ocupados por decisão soberana do povo, através de eleições livres e transparentes. Através do real exercício da Democracia Representativa.

Em querendo mudanças, mudem o voto!

By me

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