Durante anos,
dezenas de anos, a eucaristia dominical foi transmitida a partir de estúdios,
na RTP.
E eu, enquanto
operador de câmara, perdi a conta a quantas transmiti, mas serão, p’la certa, várias
centenas. Domingos comuns e outros.
E durante anos, até
hoje, sempre disse que essas transmissões eram das que mais prazer me davam
fazer.
Claro que esta
minha afirmação sempre deixou muita boa gente a olhar para mim com cara de
espanto. Como é que eu, agnóstico convicto e crítico do papel da igreja na
sociedade, podia afirmar ter prazer neste trabalho?
Por dois motivos,
bem distintos mas igualmente importantes.
Por um lado, e
quando as missas eram transmitidas a partir de estúdio e não a partir de
igrejas, permitia uma abordagem estética que muito me satisfazia enquanto
operador de câmara. Os movimentos de câmara no seu pedestal eram possíveis, que
o chão o permitia, bem como a ausência de obstáculos como bancos, colunas e
confessionários que encontramos em qualquer igreja. Enquanto profissional da
imagem, podia levar ao limite as minhas capacidades e perícia de operação. E
esse desafio dá prazer.
Por outro, sempre
afirmei que a transmissão da missa é um programa televisivo da maior importância
que qualquer estação de TV pode ter.
Não no sentido de
divulgar uma fé em que não creio.
Antes porque o
público, aquele que está a ver a eucaristia pelo ecrã, está a fazê-lo por
vontade e decisão própria. Para satisfazer uma necessidade que entende por
real. Faz do televisor que tem à sua frente o substituto possível para a sua
impossibilidade de assistir ao vivo à missa. Ou porque está acamado, ou porque
está preso, ou porque está distante de uma igreja, ou porque a igreja da sua
zona já não celebra…
Quem assiste à
missa pela TV fá-lo por decisão assumida e não como um programa de entre a panóplia
de programas existentes (desporto, informação, recreio, cultura…)
Dando razão a uma
qualquer cabecinha pensadora que terá afirmado que “serviço público de televisão”
eram as missas, respondo-lhe daqui que não é só mas muito mais, mas que tenho
muito orgulho em todas as que transmiti.
Com elas, e com
tudo o mais, vamos continuando a fazer o tal “Serviço Púbico de Televisão”. Com
orgulho, satisfação e contra ventos e marés.
By me
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