Na minha rua há três
cafés.
Em verdade há
dois, que o terceiro fechou há meses.
Outro passou a ser
o meu favorito, onde tmco a cafeína que me mantém, o bolinho que me agrada e o
tabaco que necessito.
O terceiro, no
meio dos outros, foi o meu habitual até há uns tempos. A falta de cortesia para
com os clientes, o não possuírem a marca de cigarros que então fumava e o da
ponta se prontificou a ter e o aumento dos preços fizeram-me desistir dele. Só
lá vou por causa do pão e quando os demais estão fechados. É o caso da segunda-feira.
Pois ao fim da
tarde, preparava-me eu para pedir um café ao balcão quando um rapaz, na casa
dos 14/15 anos pediu um copo de água. A resposta foi “Agora não posso, que
estou a trabalhar!”
Estranhei.
A meio do café com
salgadinho surge um outro, mais novo, com uma pequena garrafa de plástico,
perguntando se a podia encher.
“Não!”, foi a
resposta curta e pronta.
Franzi o sobrolho.
Ao pagar entra um
terceiro que pergunta se pode usar a casa de banho. Na mão tinha uma garrafa de
plástico vazia.
“Não pode!”, foi o
que ele e eu ouvimos.
Nós os dois e uma
senhora, já de idade, que sentada numa mesa perto da porta, também tinha
assistido a tudo. E, antes ainda que eu pudesse dizer algo, falou ela.
Chamou a empregada
e afirmou: “Olhe que água não se recusa a ninguém! Isso não se faz!”
A empregada
encolheu os ombros e afastou-se, tal como o patrão, que se tinha aproximado.
Saí com vontade de
ir a casa buscar uma garrafa vazia, voltar aqui e pedir para encher. E, depois
de cheia, levá-la ao parque infanto-juvenil de onde tinham vindo todos eles.
Que o dia esteve quente e as brincadeiras fazem sede, sabemo-lo.
E se não o fiz foi
apenas para que não se suspeitasse do que a garrafa pudesse conter, que os
tempos andam esquisitos, caramba.
Sei que os tempos
estão difíceis. Sei que há um café, algures numa praia algarvia, que cobra por
copo de água. Sei que não há obrigatoriedade formal em dar a quem não esteja a
consumir.
Mas quem recusa água
à gente jovem, num dia de muito calor, esperará que lhe façam o quê, daqui por
uns anos valentes, quando estiverem acamados e não puderem, sequer, mudar as
suas próprias fraldas?
É nos momentos de
crise que o melhor e o pior de cada um vem ao cimo. E esse mesmo melhor e pior é
moldado ao longo da vida.
Os meus mais
sinceros agradecimentos àqueles que ao longos dos últimos tempos têm defendido
com unhas e dentes a competição desenfreada. Estes são os resultados!
By me
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