Em minha casa
fuma-se. Bastante.
Implica isso que,
por sistema, haja pelo menos uma janela aberta, quando não mais, por via do
arejamento. Só mesmo quando está um frio de rachar ou uma tempestade de fazer
encolher de medo o Adamastor é que ficam todas fechadas.
Não tem sido esse
o caso.
Pois em tendo uma
ou mais janelas abertas, por elas entram todo o tipo de ruídos: se o vento
estiver de feição, a petizada na escola; dois quarteirões abaixo, a flauta do
amolador quando passa; o chilrear da passarada se estiver ela voltada para isso;
grilos e cigarras no tempo deles; p’lo meio-dia, e também se o vento ajudar, a
sirene dos bombeiros; se o Inverno tiver sido molhado, umas rãzitas nuns
charcos lá mais longe, no sossego da noite…
Claro que também
oiço o que não quero e não gosto: buzinas de automóveis, que dá muito trabalho
sair do carro para tocar a campainha; tarde na noite os camiões do lixo; motores
postos a acelerar para carregar baterias; carros ou motos de escape livre, como
se isso melhorasse alguma coisa o rendimento; festarolas, até altas horas que,
se fossem no meu prédio já teriam tido direito a presença policial; discussões
familiares…
Mas há um som, que
só de quando em vez oiço e de que não gosto nem um nico. São só alguns dias por
ano, o vento tem que estar de feição e não pode haver muitos outros barulhos
por perto. Mas, vindo bem detrás deste eucaliptal, bem detrás dele, e ele também
não fica pertinho de minha casa, oiço o treino militar com armas de fogo de uma
carreira de tiro que por aqui há.
Caramba! Andamos
todos a tentar que isto não chegue a vias de facto, anda o país em crise a
poupar nos cêntimos que pode e que não pode, e andam os militares a desperdiçar
munições, preparando-se para matar o seu semelhante!
Mesmo que as
coisas não andassem beras, eu contestaria, que mantermos um exército afinado e
pronto a entrar em acção, matando seres humanos, é coisa que contesto do fundo
da minha alma. Agora em tempos de crise…
Acabem lá com isso
que eu não quero sair da cama, logo de manhãzinha, e ouvir o som da morte
entrando-me p’la casa dentro.
By me
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