sábado, 30 de junho de 2012

O comboio que não apita mas chora




Quando primeiro vi, bem à distância, achei estranho.
A primeiríssima ideia que tive foi “Então agora o comboio vem até cá a cima?”
Depois apercebi-me que a “máquina” vinha atrás, o que só costuma suceder em casos de manobras especiais. E não era o caso.
Aproximei-me.
E o meu espanto perante tal composição foi tal que teve que ser a “máquina” materna a chamar-me à realidade e perguntar-me se não a reconhecia. A cara não me era estranha, mas não sabia localizar com exactidão, nem no espaço nem no tempo. Foi ela que me chamou à realidade e lembrei-me então que muitas refeições, jantares em regra, me tinha ela entregue, num restaurante aqui do bairro que já fechou. Com pena minha, que era o único onde se podia fumar.
E lá me contou ela, orgulhosa a ponto de rebentar, que tinham oito meses, que um deles vinha a refilar por vir na alcofa do meio, que só gosta de andar na da frente, mas que como está meio constipado ali vai mais resguardado, goste ou não. E sabia de cor os nomes deles e em que alcofa estavam mesmo sem olhar para eles.
E acrescentou que o parto tinha corrido bem e que, apesar de pequeninos, nenhum deles precisara de incubadora. E ainda bem, que com diferença de horas naquele hospital tinha havido dois partos triplos. E que se os dela tivessem necessitado de cuidados especiais, como os da outra parturiente, teriam que ser transferidos de hospital, que não tem aquele para tantos ao mesmo tempo.
Pudera! Três gémeos por mãe, duas mães…
O percurso chegou ao fim, bordejada que foi a escolinha do primeiro ciclo que eles os três irão frequentar daqui por uns cinco a seis anos. Ainda estive para a ajudar uma ou duas vezes no sobe e desce dos passeios, que boleados como deveria haver por aqui não há muitos. Mas a boa da tripla mãe já tem os truques para fazer subir o “comboio”, com dois jeitos de mão e um jeito de pé, que eram uma lindeza. Foram eles para um lado, os três pequenitos, a mãe e o irmão deles, aí com os seus oito anitos. E fui eu para outro, sem ser capaz de desgrudar o olhar daquele carrinho enorme e a fazer entre dentes uma pergunta de ordem prática:
Cabe aquele “monstro” no elevador do prédio?
Fiquei-me com a dúvida e com a fotografia.

By me 

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