Já o tinha visto
por lá, a fazer os seus exercícios acompanhado quando necessário.
Mas ainda o não
havia visto a sair da sua cadeira de rodas.
Com ele estava o
P., chamemos-lhe assim, o fisioterapeuta que vinha estimular os meus próprios músculos
antes dos restantes tratamentos.
P., de pé ao lado
dele, assistia ao seu difícil passar da cadeira para a marquesa. Com os braços
abertos, quase que em forma de asa, apenas estava de sobre-alerta para
intervir. Sem nada fazer excepto, no final da penosa passagem, o colocar as
almofadas e afastar a cadeira de rodas.
Veio depois P.
para junto de mim, cuidar da minha já quase insignificante mão.
Em tom baixo, que
a circunstância e a exiguidade do espaço assim o exigiam, perguntei-lhe se a
sua atitude se devia a uma necessidade do doente ou a um desejo do doente.
“Porque eu o
quero!”, disse-me sem rodeios. E, em tom mais brando, completou:
“Ele já está a
ficar sem tónus muscular. Não lhe vou fazer a papinha.”
E, em tom ainda
mais baixo, acrescentou:
“Não lhe vai
servir de muito. É um caso de esclerose múltipla. Da primeira vez que veio aqui
tinha 18 anos, foi só um ligeiro caso, e vinha com uma canadiana. Agora, aos 22
anos, deu-lhe forte e está assim. Não sei por quanto mais tempo.”
E continuou a
esfregar-me o braço e a mão, desta feita com bem mais força que o habitual.
Olhei por cima do
ombro de P., à minha frente, e vi o jovem a esforçar-se por fazer abdominais. Com
pouco sucesso, mas sempre a insistir, sozinho.
E tive vontade de
me levantar e sair.
By me
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