É argumento meu
que os fotógrafos, regra geral, fotografam o menos normal, o incomum, aquilo
que prende o olhar pela diferença.
Pode ser uma luz,
pode ser uma expressão, pode ser uma forma. Mas tem que chamar a atenção.
Mas, para tal, tem
que o fotógrafo estar preparado para sentir ou ver a diferença. Aquilo que, no
meio da normalidade do universo que nos cerca, não faz sentido, não prima pelo
cinzentismo da uniformidade.
Quase pisei esta
tampa de esgoto. O meu pé deteve-se e recuou, enquanto o meu olhar, que
vagueava enquanto caminhava lentamente apreciando a tepidez da tarde, desceu e
tentou perceber a incongruência que me havia feito parar.
Um passo atrás e
levei mais de um minuto a perceber o que me incomodava. Mas acabei por o saber.
Estava eu na rua
Vila de Bissorá, no bairro dos Olivais, em Lisboa. E esta tampa, que parece
estar a afastar de si as pedras da calçada, está identificada com as letras “CMC”
que, garantidamente, não são as iniciais da Câmara Municipal de Lisboa. Que
todas ou quase todas as tampas de esgoto ostentam.
Terá havido um
engano ou engano coisa nenhuma?
E será que nenhum
dos que ali passam regularmente, incluindo os que a limpam, nunca deram com a
coisa?
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário