O texto que se
segue é aquilo a que se poderá chamar “Politicamente incorrecto”!
Surgiu na
sequência de uma pergunta, dúvida ou mal-entendido algures por aqui na web. Foi
escrito em cima do joelho, na verdadeira acepção da palavra, numa pausa entre
dois programas, sentado na escada do pátio onde vamos fumar o cigarro da nossa
impaciência.
É a materialização
de ideias antigas e um re-escrever de memória de um outro semelhante escrito e
apresentado há 30 muitos anos, numa aula da filosofia. Valeu-me então fortes
críticas e contestações.
Mas o meu sentir
de então não mudou, talvez apenas as palavras e a construção das frases. Assim
como alguma pesquisa para rigor de factos.
Aqui fica, tal
como saiu agora da caneta para o papel.
Nos finais do séc.
XIX os equipamentos militares eram francamente diferentes dos de hoje.
A cavalaria era
mesmo composta por cavalos e não por carros blindados, a artilharia não possuía
o alcance e a eficácia da actual e os aviões estavam ainda a descobrir como
levantar voo.
Por isso, o
eliminar do inimigo de uma posição fortificada (cidade, castelo ou trincheira)
processava-se essencialmente à força de braços e de pernas: após o tiro de
barragem de artilharia que supostamente abriria brechas nas fortificações e
linhas inimigas, a infantaria carregava contra elas de espingarda em riste e
baioneta calada. Os defensores ripostavam a tiros de canhão, de espingarda, de
granada e, em último recurso, no corpo-a-corpo.
Ganhava quem
tivesse mais gente ou munições.
Mas até que a
infantaria assaltante chegasse às linhas inimigas, os canhões faziam razias nas
tropas ofensivas. Das primeiras vagas de assalto, poucos eram os que se
salvavam ou ficavam incólumes.
A esta massa
humana que tombava em frente às trincheiras chamavam “carne para canhão”. Que
marchava de peito descoberto contra os canhões que os massacrava.
O Hino Nacional
Português, que se chama “A Portuguesa”, foi escrito e composto em finais do
séc. XIX, em 1890, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfred
Keil.
Glorifica a pátria
e a sua defesa a qualquer preço, incitando os patriotas a lutarem por ela até
ao alento final, ao sacrifício último, até “marcharem contra os canhões”. Até
serem carne para canhão!
Não há guerras
limpas! São todas sujas de sangue, ossos, vísceras e cérebros esparramados nas
terras de ninguém das frentes de combate ou nas retaguardas bombardeadas.
A “Doce morte do
herói” é um mito construído por poetas e ideólogos que, longe do horror da
carnificina, se imaginam vitoriosos.
Todos, ou quase,
os que declararam guerra ficaram na retaguarda, protegendo a sua integridade
com a necessidade da estratégia.
As vitórias
declaradas por generais e políticos, foram-no assentes na “carne para canhão”
que marchou sobre as trincheiras e sucumbiu enlevada por cânticos como A
Portuguesa.
Mas não pensemos
que somos piores que os demais. A maioria dos hinos nacionais baseia-se no
mesmo conceito: Que há que dar o corpo ao manifesto e a vida em defesa de
ideais patrióticos. Que a maioria dos que a dão não entende ou desconhece.
Estará, talvez, na
altura de pensarmos no significado das palavras que se cantam e ver bem a cor
dos “Doces e bolos com que se enganam os tolos”!
By me
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