quinta-feira, 3 de maio de 2012

O ministro e o grande irmão




Ouvi um ministro propor uma ideia estupenda sobre como combater eficazmente a evasão fiscal. Dizia ele que seria obrigando a que todas as compras ou negócios de valor superior a mil euros teriam que ser efectuadas usando qualquer coisa que não dinheiro vivo: Cheques, cartões de crédito, cartões de débito, transferências… nada de notas ou moedas.
Esta ideia, que combaterei enquanto me for possível, deixa-me arrepiado para além do limite!
Por um lado, obriga a que todo o cidadão que queira comprar ou vender algo nesses montantes tenha conta bancária. O que me leva a perguntar porque raio tenho eu que ser obrigado a ter negócios com um banco? Porque ter conta bancária implica fazer negócio com um banco e permitir que ele obtenha lucro com o que é meu. E se eu quiser fazer compras, digamos que numa mercearia, porque raio tem que um banco lucrar com isso?
Em segundo lugar, pergunto-me porque raio uma entidade privada tem que ficar com registos dos negócios que eu faço? Porque cada movimento numa conta fica registado no banco. E são a esses dados que o tal ministro quer aceder. Mas se eu fizer um negócio, digamos que com um médico, porque raio tem que uma terceira entidade, privada, ficar a saber disso e guardar registos de tal situação clínica?
Em terceiro lugar, este registo por parte de uma entidade privada vai definir quem é e quem não é cidadão. Tal como já acontece com os documentos de identificação emitidos pelo estado português. Mas se estes, sendo obrigatórios, identificam cada um com o estado e os seus iguais, a obrigatoriedade de ter uma conta bancária fará o mesmo junto de entidades privadas. Que, do meu ponto de vista e do ponto de vista da garantia das liberdades individuais, nem sequer têm que saber que eu existo, quanto mais que tipo de negócios eu possa fazer.

Não tenho nada a esconder de quem quer que seja, pelo menos não mais que o comum do cidadão com uma consciência medianamente limpa.
Mas entendo que a minha vida a mim pertence e que não posso ser obrigado a dela fazer alarde ou divulgar junto de privados que não conheço ou quero conhecer. 

A tudo isto, que evidencia um “Grande Irmão” cada vez mais omnipresente, acrescento um outro aspecto.
A situação que hoje vivemos, de dificuldades económicas e de carências de vários tipos, adveio em grande parte do sistema bancário e dos seus maus e escuros negócios. De entidades privadas! Quer este ministro obrigar que cada cidadão contribua encapotadamente e à revelia da sua vontade para essas mesmas entidades que tão mal nos fizeram e vão fazendo?

Senhor Ministro: Quem tem muitas ideias corre o risco de ser chamado de idiota. É isso mesmo que lhe chamo!
E aos idiotas dão-se três tipos de tratamento: se o caso é ligeiro, o ostracismo; se é de mediana gravidade, umas palmadas bem assentes resolvem a questão; se o caso for muito grave, recorre-se a um colete-de-forças e uma cela almofadada. É isso mesmo que lhe recomendo!
Para seu e nosso bem!

By me

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