Quando pela
primeira vez trabalhei com jovens no processo de aprenderem os truques e técnicas
dos ofícios do audiovisual, ainda o digital era uma miragem no horizonte.
Convidado (desafiado)
por um amigo, saberia eu – talvez - alguma coisa sobre o assunto, teoria e prática,
mas sobre pedagogia e como a aplicar, valham-me todos os deuses, mais não tinha
eu que boa-vontade e bom-senso, adquiridos nem sei onde. E se foi verdade em
todo o tempo em que ajudei gente a aprender, mais o foi ainda naquele primeiro
ano: não sei quem aprendeu mais, se os alunos se eu.
Era o início à
abordagem de óptica e objectivas e explicava-lhes eu as diferenças entre
grande-angular, tele-objectiva e objectiva normal.
A dado passo
resolvo ser “engraçadinho” e pergunto-lhes se sabiam porque a objectiva de 50mm
era chamada de “normal”. Perante o não saberem que eu sabia, disse-lhes que “É
porque é a objectiva que vem normalmente com as câmaras!”
Ri-me e, de
seguida, expliquei os motivos reais de tal denominação.
Uma ou duas sessões
depois, e em voltado ao tema, segui a técnica banal de recapitular o aprendido
para continuar para o desconhecido. E perguntei-lhes se se lembravam porque a
50mm era chamada de normal. Uma das alunas, excelente mocinha e aluna,
consultou rapidamente os apontamentos e declarou: “É porque é a objectiva que
vem normalmente com as câmaras!”
Fiquei siderado!
Não lhe poderia
dizer que aquilo era um disparate, pois fora eu que o dissera e ela esta a
citar-me com seriedade. Mas apercebi-me, ali de pé como estava, da importância
de cada palavra ou afirmação por parte de um professor (monitor, formador ou o
que se lhe quiser chamar). E soube então aquilo que nunca mais esqueci e que é
a pedra de toque da actividade: O vital do manter a credibilidade perante quem
está a aprender.
O acto de aprender
é quase que como um acto de fé. Acredita-se em quem nos ensina, como se
acredita num sacerdote ou num deus: ele está certo! Mas, simultaneamente, o ser
humano é desconfiado por natureza e, em encontrando falhas importantes naquilo
que lhe é dito como verdade, passa a pôr em causa tudo o resto que ouve e vê. Perde
a fé. E não aprende com a mesma facilidade ou mesmo de todo.
A confiança
depositada por parte de quem aprende em quem ajuda a aprender é mais de metade
do caminho para aprender. O resto é uma questão de técnica, de método e
empenhamento de ambas as partes. Mas essa confiança (ou fé quase cega), que é
implícita no primeiro contacto, nunca pode ser quebrada, sob pena de se passar
a não acreditar no que se ouve.
E tanto que assim é
que, em se tratando de temas naturalmente mais controversos, com estética ou
filosofia, o maior trabalho de quem ajuda a aprender é levar quem aprende a pôr
em causa o que é dito, a contestar e argumentar os conceitos apresentados.
Um dos graves
problemas do conhecimento disponível na Internet é a eventual fé cega que quem
a ele acede nela deposita. Porque nem sempre o que lá se encontra está certo,
completo ou honesto. E, em acreditando sem pôr em causa o que ali se pode
aceder, corre-se o risco sério de aprender deturpadamente. Tanto no que à técnica,
estética ou pensamento se refere como à informação em geral sobre
acontecimentos no mundo.
É recomendável que
quem ali procura conhecimento para aprender que recorra a mais que uma fonte ou
site, que compare os conteúdos e tire as suas próprias conclusões. Mesmo em
tratando-se de sites ditos “de confiança”.
Já quanto quem “ensina”,
se recorrer à Internet como fonte de material didáctico, deve ser ainda mais crítico
nas escolhas que faz, verificando cada pedacinho do que encontra. Que os “erros”
que dali possam passar para quem aprende passarão a ser considerados como
certos. Ou, tão ou mais grave que isso, passarão a ser postas em causa as
recomendações de quem “ensina” e os recomenda.
Em jeito de
conclusão, sempre posso acrescentar que não é fácil manter essa credibilidade
junto de quem aprende. O conhecimento não se compra por atacado nem há quem
seja infalível.
Um bom método de
manter a credibilidade é reconhecer, junto de quem aprende, que se não domina
tudo, que há áreas ou matérias sobre as quais desconhecemos ou não temos
certezas. E, confrontados com perguntas mais complicadas, assumir essa ignorância
ou incerteza, acrescentando que se irão tirar dúvidas para mais tarde
esclarecer quem pergunta.
Desta forma fica
mais ou menos claro que quando um assunto é tratado com “certezas” é credível.
E o factor “credibilidade não é posto em causa.
Há a ciência do
infinitamente pequeno e do infinitamente grande, onde ainda temos muito para
prender. Mas sobre pedagogia e de como ajudar a aprender também não há fórmulas
nem certezas absolutas. Pelo menos eu não as tenho.
Texto e imagem: by
me
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