Acredito que a
maioria das pessoas que vejam esta imagem não saibam o que é. Talvez algumas
possam deduzir pelos elementos expostos e, talvez também, haja alguém que
alguma vez tenha usado isto ou parecido.
Também entendo que
o não saibam. Hoje os filmes são tratados no computador, com programas e menus mais
ou menos evidentes e com recurso a manuais on-line e inclusos. Até porque o que
não falta são páginas que ensinam como os usar.
Mas esta coladeira
de cinema, em filme mesmo, é uma preciosidade! Está concebida para ser usada
com solvente químico e não com fita adesiva, como uma outra que aqui tenho em
casa e, pese embora o não bom estado de conservação da embalagem e algumas “descascadas”
na tinta, está em perfeito estado, pronta a ser usada quase que como quando
este era o único meio de juntar duas imagens animadas.
A sua idade? Não
encontrei referências a este aparelho que mo dissesse com rigor, mas posso
pensar que tenha a minha, mais coisa, menos coisa.
Onde o encontrei?
Numa loja de artigos usados, na Amadora, loja que não conhecia e onde gastei
uma boa hora de volta dos artigos que por lá estavam à venda.
O seu preço? Mais
barato que o preço de um almoço médio num restaurante médio, quase do mesmo
preço que dois rolos de fotografia em preto e branco, muito mais barato que a
maioria dos livros “best seller” nas livrarias. A quase ninharia de 12 euros.
Para que me serve,
hoje que não se encontra película de 8mm ou super 8mm à venda em Portugal e
que, para ser revelada, tem que ser enviada para Espanha. Para que me serve se
uma bobine de filme para 4 minutos de filmagem a 18 imagens por segundos não é
reutilizada, se pode estragar, rasgando ou riscando, com facilidade e que
implica ter um projector e tela para ser visto? Para que me serve se o processo
de montagem é mais moroso, dispendioso e exigente, porque sem retorno, que os vídeos
que se fazem com qualquer telemóvel, se começarmos a contar de baixo em termos
de qualidade? Serve-me para juntar a uma outra coladeira, a uma moviola
(visionadora de montagem), a um projector, a uma tela e a uma câmara que tenho
guardadas quase religiosamente.
São parte do
passado do audiovisual, numa época em que, antes de se fazer o que quer que
fosse, se pensava seriamente no projecto. Custo e complexidade não davam azo a
brincadeiras inconscientes. Mas uma época em que cada trabalho era Um trabalho
e não apenas Mais-Um trabalho.
E serve-me para
que, de cada vez que para essas “velharias” olho, lembrar que antes de fazer há
que pensar. E ter algumas certezas.
Aqueles que hoje
acedem a esta imagem e palavras rir-se-ão daqui a uns vinte ou trinta anos dos
equipamentos que agora estão a usar. Espero que nessa altura se pondere um
pouco mais que hoje, de cada vez que se registe uma imagem ou som.
E serve-me para
deliciar os olhos numa peça feita numa época em que, e para além da função, a
forma era igualmente importante e objecto de estudo aturado.
Manias!
Texto e imagem: by
me
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