segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Mesmo na tarde de natal




A cidade tem as suas figuras características, algumas vezes conotadas com algum “desarranjo” na caixa dos pirolitos.
Eles eram, em tempos, os internados no hospital da Av. Do Brasil, que pelas grades ou mesmo na rua, pediam cigarros;
Ele era o polícia sinaleiro bailarino, que geria o tráfego com passos dignos de um qualquer palco;
Ele era o Senhor Adeus, que saudava quem passava na rua.
E muito outros, mais ou menos visíveis, que com os seus actos incomuns quebram a rotina da cidade.
Alguns há que quase se não dá por eles, na sua discrição. Este é um deles.
Conheço-o há mais de cinco anos, nas minhas idas como fotógrafo À-Lá-Minuta no Jardim da Estrela ou como mero passeante por ali.
Todas as tardes em que lá estive o vi, sentado num banco. Ao sol, se de Inverno, à sombra, se de verão.
Chega como sai, sem falar com ninguém, sem mesmo saudar com um gesto os demais utentes habituais. Nem mesmo um sorriso o vi fazer.
Mas nunca fica sozinho! O seu hábito é dar de comer aos pombos que, sabendo-o, vão ter com ele, amigo de longa data que é.
E vão-lhe comer à mão, deixando-se agarrar como um cachorrinho e depenicando do que lhes trás ao bico.
Deve ele conhecê-los a todos, quiçá ter-lhes-á dado nomes, pois que enxota os repetentes, fazendo questão que todos tenham o seu quinhão.
No Jardim da Estrela há bancos certos para visitantes certos. Juntam-se em grupos mais ou menos constantes, senhoras com senhoras, homens com homens. E, na tarde do dia de natal, alguns por lá não estavam, talvez que na “terra”, com as suas famílias.
Mas nenhum tem tantos amigos quanto este, cuja história e nome não sei.

Texto e imagem: by me

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