Talvez seja
defeito de ofício. Talvez seja incapacidade minha. Talvez seja resultante de há
tanto tempo andar a brincar com imagem e palavras. Talvez seja por de quando em
vez andar a ler coisas sobre semiótica e interpretação da imagem.
Certo é que o meu
processo metal, pelo menos nesta fase que atravesso e que se prolonga há uns
anos, não me permite fazer uma imagem sem que a ela, logo na altura, uma
qualquer história seja associada na minha mente.
Pode ser algo de
elaborado e de muitas páginas, como pode ser uma simples frase, com mais ou
menos ironia.
Por vezes aquilo
que vejo leva-me, ainda antes de fotografar, para um passado e para uma situação.
Outras, é a vivência no imediato que provoca a vontade (ou necessidade) de
fazer o registo fotográfico.
Em qualquer dos
casos, é muito raro fazer uma fotografia sem que algo me trespasse a mente.
Não é coisa nem
boa nem má: é apenas um método que adoptei nem sei bem como, mas que funciona.
Ajuda-me, na altura do “click”, a saber sem hesitações aquilo que quero
mostrar. Aquilo que quero pôr em evidência.
Se uso a
perspectiva, a distribuição dos elementos no espaço do enquadramento, a luz ou
qualquer outro método, é uma opção tomada em função da história que se me
surgiu, da situação que estou a ver, da luz existente, de se posso ou não
alterar ou arranjar tudo isso em meu favor.
Mas sempre um
resultado do binómio assunto visto/ideias ou histórias geradas.
E, em trabalhando
com aprendizes, de fotografia ou de vídeo, em escola ou em trabalho, tenho-os
confrontado amiúde com uma pergunta, caso por algum motivo me não agrade o que
estão a fazer. “Que história conta esta imagem?”
A explicação à
posteriori dada pelos próprios acaba com frequência nalgum tipo de correcção ou
alteração que eles mesmos decidem fazer. Não que eu os conduza a isso mas antes
porque pensaram um pouco na forma do que estavam a captar e na correspondência
entre o visível da imagem e a interpretação que dela se poderia fazer.
Quando vi o que
aqui mostro, uma frase se me surgiu de imediato: “Olha se não estivesse fora de
serviço!” E, constatando os pontos de ferrugem que se lhe vêem, pensei que já
assim estaria há bastante tempo.
Para a fazer,
debati-me com alguns problemas:
1- Não gosto de
fazer imagens verticais. Os motivos são vários e vastos, mas o que é certo é
que não gosto. Donde, haveria de a fazer na horizontal, pese embora a
verticalidade do assunto.
2- Para a
horizontalidade, haveria que mostrar o abandono do local em redor, pelo que fui
obrigado a esperar uns minutos que passassem uns quantos de garotos e garotas
recém-saídos de uma escola próxima.
3- Não a querendo
colocar rigorosamente ao centro, ainda que a sua simetria o permitisse, haveria
que escolher se à direita se à esquerda. Voltada para trás, para o passado,
tornava o assunto ainda mais triste e abandonado.
4- Na linha dessa
ideia de abandono, haveria que esconder (ou tentar) outros sinais de vida em
redor, como o carro que está à extrema-direita ou os prédio atrás e em volta. A
proximidade ao assunto ajudou-me a resolver a questão.
5- Aquele pedacinho
de luz que lhe incide pela direita dá-lhe uma vida que gostaria que não tivesse,
ainda que ajude a dar-lhe volume. Mas não tinha quem lhe fizesse sombra.
Estará esta imagem
perfeita? Por certo que não está nem eu tenho a presunção de o afirmar. Mas foi
o que me foi possível fazer, confrontado com esta ex-cabine telefónica, o
respectivo aviso e o que me veio à mente na altura, durante um pequeno passeio
pós-laboral pelo bairro perto de onde trabalho.
Texto e imagem: by
me
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