segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Manhã 25 Dezembro 2011 na Cidade


Nasce o sol


Aquele eterno problema, mesmo quase de madrugada, de os cidadãos colocarem o lixo nos e junto aos contentores, mesmo sabendo que neste dia não haverá recolha.
Tão ou mais grave que isso é sabermos que a esmagadora maioria desse lixo é inorgânica, pelo que pode, perfeitamente, esperar um dia (ou mesmo mais) em casa sem que isso atrapalhe ou provoque cheiros.





Às oito e meia da manhã em dia de greve de maquinistas, espera-se o comboio que cumprirá o serviço mínimo o faça. Que o anterior passou duas horas antes e o seguinte passará duas horas depois. 
Cumpriu-se o decretado, felizmente.





A bordo do comboio, três senhoras vão à conversa.
O tema genérico é, como não podia deixar de ser, a greve dos comboios e como isso perturba a vida de cada um. 
Uma dela diz-se particularmente preocupada, já que trabalha no lar de idosos. São quatro neste turno, já lá devia estar há uma hora e sabe que só lá está um colega, que as outras duas estão com os mesmos problemas de transportes. 
E, como as cancelas estão abertas, que não oblitera o bilhete. O revisor que viesse que logo ia ver e ouvir.
Não veio, que estava no extremo da carruagem apenas a fazer o comboio seguir em cada estação, deixando de parte a questão das validações e verificações.
Pergunto se esta vertente da greve terá sido equacionada pelos grevistas ou abordada pelos media.





Não me recordo de ver a Rua Augusta tão vazia, incluindo de esplanadas e luminárias natalícias.




A Rua Garrett vazia não é novidade, mas também é estranho, mais ainda se equacionarmos que nada se ouvia na cidade.




O Largo do Camões, sempre tão cosmopolita e internacional, de tão vazio estava que nem pombos tinha.




Mesmo o próprio presépio na cidade primava pela ausência de personagens. 
Quem sabe se procuraram, e bem longe tiveram que ir, por um café ou tasca que lhes servisse uma bica p’ra aquecer?





Admitamos a raridade da situação:
Nunca eu tinha visto as costas da cadeira que ladeia a estátua do Fernando Pessoa, sempre tapada por um casaco ou camisa de um turista que ali se quis fazer fotografar. 
É que até é bonita, o raio da cadeira.





Para além de meio da manhã, a baixa Lisboeta encheu-se.
Principalmente de turistas, com estranha e abundante presença de orientais: casais, famílias, idosos.





E abriram alguns negócios, maioritariamente encabeçados por gente de outros continentes que nada devem ao Natal. 
E, nesta questão dos negócios, duas coisas me surpreenderam à séria:
As bancas de artesanato da Praça do Comércio, que ali assentaram arraiais talvez por ser Domingo;
A ausência de velhos conhecidos ciganos que tentam fazer p’la vida também neste dia, com os seus relógios e óculos genuinamente falsificados e outros produtos também não recomendáveis.
Pergunto-me por onde andarão eles.





Dos portugueses, alfacinhas ou migrantes para a grande cidade, quase só vi idosos.
Boa parte deles a caminho das igrejas, para a missa de Natal ou só pelo hábito.





Dos portugueses, alfacinhas ou migrantes para a grande cidade, quase só vi idosos.
E gente que se deslocava, lentamente ao sol, mais rápido na sombra, tentado que aquele lhes aquecesse os ossos cansados da friagem desta.





Dos portugueses, alfacinhas ou migrantes para a grande cidade, quase só vi idosos.
E, caramba, quase tantas bengalas quanto casacos.





Quando cheguei ao Rossio, já ela ali estava.
Sentada ao sol, no frio banco de pedra, ladeada pelas duas malas de grannde porte e um saco de plástico.
Ali, parada, sem nada fazer, apenas estando.
A única coisa que lhe aconteceu, enquanto eu passava, foi um agente da Polícia Municipal, na sua ronda apeada, tê-la abordado, dizendo-lhe que não poderia ali estar. Não foi convincente, pois ela ficou e ele seguiu.
Duas horas depois, quando por lá passei de novo, continuava ela no mesmo lugar, na mesma pose e com a mesma companhia. Incluindo o mesmo agente policial que lhe terá dito o mesmo, que desta vez não ouvi.
E com o mesmo efeito. 
Para onde terá ido ela, quando o banco ficou à sombra?





E depois há os outros. Aqueles que também estão sós e que fazem de tudo para meter conversa.
O pretexto pode ser um cigarro, uma informação, uma moedinha ou uma fotografia ao Pai Natal sem gorro e com mochila.
Com estes faço negócio: em troca do que pedem quero uma fotografia.
Desta feita sem nome. Talvez José, quem sabe?

2 comentários:

zorba disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zorba disse...

Bom 2012
Zorba